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O presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, pediu à China que liberte Liu Xiaobo, Prêmio Nobel da Paz 2010, que paga uma pena de 11 anos de prisão, ao dar início nesta sexta-feira, em Oslo, à cerimônia de entrega simbólica do prêmio ao dissidente chinês.
"Liu só exerceu seus direitos cívicos. Ele não fez nada de ruim. Ele deve ser libertado", declarou Jagland, enfatizando que a Constituição chinesa garante oficialmente a liberdade de expressão e o direito de criticar o aparelho de Estado. O Nobel da Paz foi colocado simbolicamente numa cadeira vazia na ausência Liu Xiaobo.

Censura

As palavras "cadeira vazia" e "Oslo" estavam censuradas nesta sexta-feira nos sites de busca da China, poucas horas antes da entrega simbólica na capital norueguesa do prêmio Nobel da Paz ao dissidente Liu Xiaobo, que será representado por um assento desocupado. Desafiando a ativa censura chinesa, os internautas começaram a postar na rede fotos de todo tipo de cadeiras vazias, numa referência ao prêmio Nobel que será entregue na ausência do laureado, que é mantido preso.
Uma tentativa de escrever no portal Renren, um equivalente chinês do Facebook, as palavras-chaves "cadeira vazia", "banco vazio" ou "Oslo" basta para perceber que as autoridades chinesas estão vigilantes: o resultado é imediatamente bloqueado e a mensagem "conteúdo proibido" aparece na tela.
Na página Netease, um equivalente chinês do Twitter (também censurado na China), as expressões "cadeira vazia" ou "banco vazio" indicavam que o portal também estava "inspecionado". Em outros portais, as palavras aparentemente não estavam censuradas. Nesta sexta-feira, as autoridades chinesas fazem de tudo para tentar impedir que os chineses soubessem sobre a cerimônia em Oslo, censurando também canais de televisão e sites estrangeiros.
A China exercia nesta sexta-feira uma intensa vigilância sobre os dissidentes e os meios de comunicação estrangeiros, que sofrem com a censura, poucas horas antes da entrega simbólica em Oslo do Nobel da Paz a Liu Xiaobo, cuja residência está cercada por vários policiais. Liu Xiaobo, que cumpre pena de 11 anos de prisão, a esposa Liu Xia, em prisão domiciliar e os parentes do casal foram impedidos de deixar a China para receber o prêmio, que revoltou o regime comunista chinês desde o anúncio há dois meses.
Muitas viaturas policiais estavam estacionadas nas proximidades da residência de Liu Xiaobo, em um complexo de torres da zona oeste de Pequim, onde Liu Xia está confinada desde o anúncio do Nobel. Liu Xiaobo foi uma das principais figuras do movimento democrático da Praça da Paz Celestial de 1989. Em dezembro de 2009 foi condenado a 11 anos de prisão por "subversão", depois da publicação da "Carta 08", texto que pedia a democratização da China.
Muitos amigos do casal e vários militantes dos direitos humanos não tinham condições de ser contactados pelos jornalistas nesta sexta-feira, em consequência da forte vigilância. Alguns deixaram Pequim antes da cerimônia de Oslo e outros decidiram permanecer afastados para evitar problemas. Li Fangping, advogado vigiado constantemente em Pequim, informou à AFP que viajou na terça-feira para a província meridional de Fujian.
Além disso, o governo chinês censurou a difusão dos programas dos canais de televisão estrangeiros para evitar a veiculação das imagens da entrega simbólica do Nobel da Paz a Liu Xiaobo. Os sites de vários meios de comunicação estrangeiros também estavam bloqueados a poucas horas da cerimônia na Noruega.
As transmissões dos canais CNN, BBC e TV5 eram interrompidas quando as emissoras anunciavam uma reportagem sobre a entrega do prêmio pelo Comitê Nobel, cujos membros foram chamados de "palhaços" esta semana por um representante da diplomacia chinesa.
Uma manifestação aconteceu nesta sexta-feira diante da sede da ONU em Pequim, por ocasião do Dia Mundial dos Direitos Humanos.

Obama

O presidente americano Barack Obama afirmou nesta sexta-feira que o Prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo representa valores universais e pediu à China que o liberte o quanto antes possível. Obama, que recebeu o Nobel da Paz no ano passado, disse, em um comunicado, que "o senhor Liu Xiaobo merece muito mais este prêmio do que eu".
Acrescentou que Liu "nos recorda que a dignidade humana também depende do avanço da democracia, da sociedade aberta e do império da lei". "Os valores que defende são universais, sua luta é pacífica e ele deveria ser libertado o quanto antes possível". "Lamento que se negue ao senhor Liu e a sua esposa esta oportunidade de assistir à cerimônia a qual Michelle e eu fomos no ano passado. Hoje, também é o Dia Internacional dos Direitos Humanos, e deveríamos redobrar nossos esforços para promover os valores universais para todos os seres humanos".