ROMA, 28 MAR (ANSA) – Por Lorenzo Attianese. De Milão a Palermo, as máfias mais antigas e conhecidas da Itália estão saindo dos caminhos clássicos da violência e deixando um espaço livre para novas organizações criminosas mais primitivas. Agora, cinco delas “cresceram” e controlam parte do território: a Pentacamorra. Em Ballarò, no coração de Palermo, na Sicília, o tráfico de drogas está nas mãos dos nigerianos. Um dos mercados símbolos da máfia Cosa Nostra está sob o poder dos “Cultisti Nigeriani” (“Ocultistas Nigerianos”). Já na Púglia, a “Società Foggiana” dispara contra os veículos blindados da polícia e ameaça os oficiais. Depois da província de Prato, a máfia chinesa também já conquistou a de Massa-Carrara, na Toscana. Na área leste de Milão, o crime é coordenado por gangues latinas. E em Bari, algumas agências de expedição começaram a pagar um tipo de taxa, o “pizzo”, ao grupo “Organizacija Georgiana”. Bastam cinco novas organizações na cena criminal italiana para ilustrar a mudança nesta área do país, onde Cosa Nostra, Camorra e ‘Ndrangheta batem em retirada estrategicamente, não estando mais nas ruas, mas sim nos postos mais altos. Ou seja, zonas inteiras onde o dinheiro sujo circulava ficaram livres e esses novos grupos não perderam tempo em plantar raízes. Os cinco poderes criminosos são diferentes entre si, mas compram droga importada das máfias “clássicas”, que ainda têm negócios com cartéis latino-americanos da Colômbia e do México.   

Vagões e navios repletos de cocaína são trocados, pelos novos protagonistas do crime organizado, por armas nos países do leste europeu através dos portos da Púglia para aumentar ainda mais o arsenal da nova Pentacamorra. É sobre essas cinco novas organizações em ascensão que se concentra a atenção do Serviço Central Operativo da polícia italiana à luz dos últimos grandes episódios de violência. E, mesmo que a percepção da criminalidade seja maior nas metrópoles, Latina, Foggia e Caserta continuam as cidades mais perigosas. Os “Ocultistas Nigerianos” – Com bonés pretos, lenços azuis e roupas de marca cassetetes e bastões para punir os traidores, os ocultistas nigerianos agem em várias partes da Itália. Às vezes, apenas uma unha, um chapéu e uma foto sevem para recrutar um exército com vodu. A sede dos ocultistas, depois que “colonizaram” a criminalidade do Piemonte e da Púglia, dá um salto para a Sicília com os “picciotti” nigerianos, nome do dialeto siciliano usado para definir os níveis mais baixos de organizações mafiosas. O grupo é especializado no tráfico de drogas, no racket [crimes fraudulentos na economia e em diversos setores] e no aproveitamento da prostituição. Apenas para esta última atividade, o lucro obtido é de quase de 2 bilhões de euros, que são reinvestidos na compra de armas e drogas. Em Ballarò, um dos subgrupos dessa nova máfia, o “Black Axe”, é o braço armado da Cosa Nostra de Palermo. Os ocultistas têm uma organização do tipo pirâmide protegida por uma rede de “omertà”, termo do dialeto napolitano que define um código de honra de grupos mafiosos do Sul da Itália, que é reforçada por ideais esotéricos e ameaças de retaliação.   

No topo há os “lord”, que representam a organização mafiosa em nível nacional e que são divididos nos “conselhos dos anciãos” e nos “diretores operativos”. Já os “butchers”, os carniceiros, são os homens responsáveis nos “match”, ataques com paus, cassetetes, machados e muita tortura. Já as mulheres do grupo costumam gerir as prostitutas, mais de 10 mil na Itália, e os “toy boys”, garotos de programa. Palavras de ordem, símbolos, punições corporais e ritos de filiação feitos através do vodu: por detrás desta áurea mágica misturada com sangue e medo, estão ladrões e traficantes nigerianos procurados em seu próprio país e que na Itália conquistaram, através do ocultismo, a fama de chefes do crime. “Organizacija Georgiana” – Balaclavas cobrem os rostos de homens fortes com tatuagens de lobos que conseguiram criar uma “multinacional” do furto, com sedes em toda a Europa.   

Provenientes da Geórgia, esses criminosos fizeram com que a sua organização expandisse suas raízes no Lazio e na Púglia. Os chefes do crime são os “ladrões na lei” (“Vory v Zakone”, ladrões especializados da máfia russa) e há anos fazem negócios principalmente com a ‘ndrangheta. Grande parte dos grandes golpes, que são colocados em prática de forma rápida e eficaz, alimentam os “fundos de investimento” de cada clã, chamados “obshak”.A organização também faz um ótimo trabalho no que diz respeito às finanças. O grupo é uma sucursal da máfia russa, que transporta o dinheiro conseguido através de companhias de expedição ou sociedades de agências turísticas ligadas a Moscou, tanto que alguns de seus investimentos no passado foram feitos em empresas do gênero da Rússia.Os criminosos da Organizacija têm uma vida dupla, muitos vêm de prisões russas e têm seu próprio papel no grupo e a sua história tatuados no corpo na linguagem Fenya, usada entre os membros.   

Muitas vezes, as investigações partem dos próprios sinais tatuados dos corpos encontrados ou dos homens que são presos. Na Itália, ao menos uma dezena de criminosos da organização já terminou atrás das grades, mas o grupo está longe de estar debilitado e está se multiplicando. Os “ladrões na lei”, os únicos que têm estrelas tatuadas no peito, comandam os clãs que, espalhados por várias cidades italianas, contam com ao menos 100 pessoas cada. No entanto não só de roubos a casas e bancos sobrevive à organização. O novo campo no qual os seus membros estão se envolvendo é o da informática, com o phishing e fraudes financeiras. Os ladrões estão se transformando em hackers que ameaçam sites de e-commerce. (CONTINUA)(ANSA)