SÃO PAULO, 26 JUN (ANSA) – Por Tatiana Girardi – Sardella no couvert, rondelli de prato principal e bife à parmegiana de acompanhamento. Por aqui, essa parece uma refeição típica de cantina, mas muitos italianos se assustariam, já que nenhum desses pratos existem dessa maneira na Itália. São diversas as receitas atribuídas ao “país da bota” que, na verdade, foram inventadas ou adaptadas no Brasil. Muitas dessas criações e adaptações foram feitas por falta de ingredientes tradicionais daqui, quando os imigrantes vieram, outras foram apenas inspiradas na nação europeia.   

De acordo com Gerardo Landulfo, delegado da Accademia Italiana della Cucina, organização com sede em Milão, dois dos pratos comumente atribuídos à Itália são totalmente brasileiros.   

“O filé a parmegiana com arroz e fritas foi todo criado aqui.   

Outros pratos podem ter uma diferença ou outra, mas nada é tão chocante como essa composição”, afirmou à ANSA. Outra criação brasileira é o polpetone , “totalmente criado no Brasil porque na Itália é feito no forno, não é frito e não tem o excesso de molho”.   

Confira algumas das “invenções” ou “adaptações”: Palha italiana – O doce feito de brigadeiro e biscoito não tem nada de italiano. Sua origem é brasileira e, muito provavelmente, do sul do país onde há forte colonização da Itália. A “inspiração” pode ter sido no “salaminho de chocolate”, que existe no país da bota, mas que tem construção diferente do brasileiro.   

Fogazza -Apesar de muitos acharem que a origem do prato é a “focaccia” italiana, a receita é bem diferente – e também foi criada no Brasil. A massa de farinha e batata é frita e recheada com queijos ou especiarias diversas. Já a “focaccia” é um pão assado e macio, que é servido com azeite e alecrim e tem origem em Gênova. O que pode ter inspirado os brasileiros é o “panzerotto”, tradicional de Milão.   

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Pizzas com coberturas ‘exóticas’ – Pizza de chocolate, de cream cheese, de estrogonofe, frango catupiry…. são milhares de variações que chegam às mesas dos brasileiros nos mais diferentes restaurantes. E não, não há nada de italiano nessas coberturas digamos, exóticas, para o tradicional prato italiano.   

Os sabores diferentes foram criados por cozinheiros e chefs Brasil afora.   

“Agora, aqui no Brasil, estão fazendo mais ao estilo italiano, com farinha mais leve. Aqui, por uma tradição cultural, as pizzas tem mais recheio do que massa, e fica mais pesada”, diz Landulfo.   

Sardella – A receita de Sardella é uma receita típica da região da Calábria, feita com sardinha e condimentos. O processo é o mesmo há séculos: o peixe é pescado entre fevereiro e abril, lavado com água doce e colocado para secar com sal. Depois, os peixes são colocados para salgar entre seis e sete meses, de onde é extraído o molho e misturado com condimentos.   

Mas, no Brasil, é feito com pimentão e variações de anchovas e sardinhas compradas já prontas. No entanto, Landulfo afirma que a receita muda de “região para região” e a feita no Brasil acaba tendo uma inspiração italiana.   

Cappuccino com chocolate – Se você for à Itália e quiser um cappuccino com chocolate, você não vai encontrar. Mais uma adaptação brasileira, a receita é basicamente é a mesma nos dois países, com a exceção da adição do chocolate: um café expresso, diluído em leite, com a “crema” [creme] do leite vaporizado. Rondelli – Apesar do nome italiano, o rondelli – enrolado de massa com recheio – não existe no país europeu. Lá existe o “rotoli” ou “rotolini”, que tem uma receita muito parecida com a brasileira. Bolognese – Caso semelhante ao rondelli, o molho bolonhesa ou bolognese tem uma receita similar na Itália, mas chamada de ragú. Agora, o que não existe lá é servir o “espaguete à bolonhesa”.   

“Não se faz com espaguete esse molho, mas com tagliatelle, uma massa fresca. O que pode ter inspirado é o “ragù alla bolognese” que não é só carne moída e molho de tomate. A receita tem três tipos de carne, pouquíssimo molho de tomate e tem um cozimento mais demorado. A bolonhesa é uma adaptação mais simples”, diz Landulfo. (ANSA)


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