A Conferência de Paris pela paz no Oriente Médio advertiu israelenses e palestinos, neste domingo (15), para que evitem “ações unilaterais” em Jerusalém e nas fronteiras, alegando que essa medida de força pode ameaçar uma solução baseada em dois Estados.

Em um comunicado final, negociado em cada detalhe pelos representantes de cerca de 70 países, a conferência pediu a ambas as partes que “demonstrem seu compromisso para a solução de dois Estados e se abstenham de ações unilaterais que prejudiquem os resultados da negociação, principalmente sobre as fronteiras, sobre Jerusalém, sobre os refugiados”.

Se levadas adiante – garante o texto -, essas ações “não serão reconhecidas”.

Com muitas “reservas” sobre a conferência de paz de Paris, a Grã-Bretanha não assinou a declaração final, informou o Ministério britânico das Relações Exteriores, em comunicado divulgado no domingo à noite.

“Temos reservas particulares sobre uma conferência internacional destinada a promover a paz entre duas partes sem que estas estejam presentes, uma conferência realizada contra a vontade dos israelenses”, explicou a nota, acrescentando que, por essa razão, Londres participou como observador e não assinou a declaração.

No mesmo tom, Israel criticou a conferência, classificando-a de “inútil”.

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“Essa conferência internacional e as resoluções das Nações Unidas apenas afastam as perspectivas de paz, dado que estimulam os palestinos a manter sua recusa a negociações diretas com Israel”, declarou o Ministério das Relações Exteriores em Jerusalém.

Ao contrário de Israel, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) comemorou o texto final do encontro e voltou a pedir “o fim da ocupação israelense”, informou seu secretário-geral, Saeb Erekat.

Além disso, a OLP solicitou o “imediato reconhecimento do Estado da Palestina com suas fronteiras de 1967 e Jerusalém Oriental como sua capital”.

Nesse sentido, Erekat pediu aos presentes que “reconheçam a Palestina, em consonância com o reconhecimento que fizeram de Israel”.

‘Provocação’

Mais direto do que o comunicado final, o anfitrião do encontro, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, advertiu que a transferência da embaixada americana seria uma “provocação” e traria “graves consequências”.

O comunicado final omite qualquer referência ao polêmico projeto do presidente eleito dos Estado Unidos, Donald Trump, de mudar a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.

Ayrault lembrou ainda que a resolução do conflito deve se basear nas fronteiras de 1967 e nas grandes resoluções da ONU.

“É bom lembrar a base, e a base são as fronteiras de 1967 e as grandes resoluções das Nações Unidas”, declarou Ayrault, referindo-se aos textos que pedem a Israel para se retirar dos territórios ocupados desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967.

Já o secretário de Estado americano, John Kerry, considerou a declaração final “equilibrada” e confirmou ter conversado por telefone hoje com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para “tranquilizá-lo”.

Para Netanyahu, que não perdeu a oportunidade de criticar a conferência, foi um encontro “fútil”.


Kerry agradeceu à França por sediar a conferência internacional e saudou sua declaração final em favor de uma solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina.

Mas, segundo ele, a conclusão positiva foi alcançada somente depois que diplomatas dos Estados Unidos insistiram em uma linguagem forte para condenar a incitação palestina e os ataques contra israelenses.

“Chegamos aqui e, onde pensamos que havia desequilíbrio e que não se estava expressando o tipo de unidade de que eu falei, nós lutamos para resolver isso”, garantiu.

“Nós não suavizamos. Nós fizemos o que era necessário para ter uma resolução equilibrada e, se você olhar para ela, ela fala de maneira positiva, e não negativa, para ambos os lados”, avaliou.

O secretário observou que as principais nações árabes estiveram presentes nas negociações e concordaram com a linguagem condenando a incitação, além de apoiarem o esboço dos Estados Unidos de uma solução de dois Estados.

Esse projeto, revelado por Kerry no mês passado, insiste na necessidade de dois Estados – um deles, Israel, reconhecido como um Estado judeu.

“Essa resolução não prejudica o resultado das negociações de status permanente para Jerusalém Oriental, as quais devem refletir os laços históricos e as realidades no terreno”, concluiu.


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