O comércio internacional de todas as espécies de pangolim, um pequeno mamífero em risco de extinção, passou a ser proibido nesta quarta-feira (28), após uma votação em Johannesburgo.

O pangolim, animal em risco devido à caça clandestina, recebeu o nível máximo de proteção contra o comércio ilegal na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (Cites), em uma tentativa de salvá-lo.

Até agora, o comércio das oito espécies conhecidas desse mamífero insetívoro com escamas, que vive na África e no Sudeste Asiático, estava legalmente regulamentado. Após a votação, porém, ficaram inscritas no anexo I da Cites, o qual proíbe o comércio de espécies em risco de extinção.

“O comitê aceita que todos os pangolins – africanos e asiáticos – sejam inscritos no anexo I”, indicou a Cites, nesta quarta-feira (28), em sua conta no Twitter.

“É uma enorme vitória e uma boa notícia incomum para uma das espécies mais ameaçadas do mundo”, declarou Ginette Hemley, chefe da delegação da organização mundial para a proteção da natureza, WWF.

“Isso coloca fim às questões sobre a legalidade do comércio. Isso tornará mais difícil o tráfico dos criminosos”, acrescentou, convocando os 182 Estados-membros da convenção a “fazer a decisão ser respeitada rapidamente”.

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“Daqui a dez anos, todos os pangolins ficarão fora dos menus”, advertiu a delegação da Nigéria, que sugeriu essa iniciativa.

Um dos pratos favoritos de Mugabe

A carne delicada dos pangolins, assim como seus ossos e órgãos, são muito demandados por chineses e vietnamitas, principalmente. Os curandeiros atribuem virtudes terapêuticas às suas escamas, feitas de queratina – da qual também é formado o chifre dos rinocerontes.

Nos restaurantes, chega-se a pagar o equivalente a 1.750 euros por um único exemplar.

Na cultura tradicional africana, o pangolim é conhecido por afastar o mau-olhado.

Pesa menos de 20 quilos e se enrosca em forma de bola quando é ameaçado, razão pela qual é uma presa fácil para os caçadores ilegais.

O animal não conta com um boa visão, mas tem a audição e o olfato muito desenvolvidos. Alimenta-se principalmente de formigas e de cupins, que pega com sua grande língua.

Segundo os especialistas, mais de um milhão de exemplares foram traficados na última década.

Durante os primeiros anos de seu mandato à frente do Zimbábue, o presidente Robert Mugabe, hoje com 92 anos, pedia com frequência que preparassem para ele pratos à base de carne de pangolim.

“Esse foi um período horrível para os pangolins e agora temos a sorte de contar com uma regulamentação muito clara”, comemorou nesta quarta-feira o diretor para a América do Norte do Fundo Internacional para a Proteção de Animais (IFAW), Jeff Flocken.

“Estamos felizes que o mundo finalmente decidiu prestar atenção à situação deste pequeno animal pouco conhecido e notadamente único”, celebrou Flocken.


“Eles são uma das espécies mais ameaçadas do planeta, e já era tempo de acordarmos e fazermos algo para salvá-los”, acrescentou.

A reunião da Cites, que vai até 5 de outubro, trabalha sobre 62 propostas relativas a cerca de 500 espécies.

Espera-se, em particular, as decisões relativas ao marfim dos caninos de elefantes e aos chifres dos rinocerontes, temas sobre os quais os países africanos se encontram divididos.

Cerca de 30 nações africanas solicitam a proibição total de seu comércio.

Mas países como Zimbábue e Namíbia pedirão que se suspenda a proibição para poder vender no mercado seus estoques de marfim confiscado, ou proveniente de elefantes mortos por causas naturais.

O dinheiro dessa venda “lhes permitiria continuar o trabalho de conservação” dos animais, disse à AFP nesta semana a ministra sul-africana do Meio Ambiente, Edna Molewa, que apoia a proposta desses dois países da África Austral.

Assinado por 182 países, o tratado da Cites protege 5.600 espécies animais e 30.000 de plantas da superexploração gerada pelo comércio internacional.


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