TENSÃO Quando era só um candidato, Trump era visto como uma piada. Agora, suas ações assustam o mundo

Donald Trump não é um homem diplomático. Fala o que vem à cabeça, faz o que quer, quando quer, e não se preocupa com as repercussões negativas de suas atitudes. É impulsivo (ou repulsivo, para alguns) e tem um discurso tão marcante quanto violento. Enquanto candidato, o falatório ofendia grupos específicos, mas não causava estragos para além das fronteiras americanas. Agora prestes a se tornar presidente – e ocupar o cargo mais importante do planeta –, Trump continua despejando ideias bárbaras, mas com uma diferença: há risco de que elas se tornem realidade. Sob Trump, eleito na semana passada “Personalidade do Ano” da revista Time (que referiu-se ao país como “Estados Divididos da América”), o mundo mergulha em uma era de incertezas. “A lógica do terror que tínhamos na Guerra Fria, só que agora com a China no lugar da União Soviética, é um dos cenários possíveis com Donald Trump no poder”, diz o professor de Economia Internacional da Universidade Columbia, Marcos Troyjo. “O mundo poderá entrar numa espiral negativa muito perigosa e o potencial de ações destrutivas é enorme”.

Se havia a esperança de que pudesse existir uma distância entre a retórica do candidato republicano e sua postura a partir de 20 de janeiro, quando assumirá a presidência, ela está desaparecendo a cada nome que o novo presidente anuncia para compor o gabinete, repleto de políticos conservadores e de militares reformados, e também a cada declaração feita em sua conta no Twitter. Na quarta-feira 7, Trump anunciou que o procurador-geral do Estado de Oklahoma, Scott Pruitt, um entusiasta das indústrias de combustíveis fósseis, irá chefiar a Agência de Proteção Ambiental. Antes, já havia escalado para o Comércio Wilbur Ross, banqueiro bilionário que quer tirar os Estados Unidos do Tratado Transpacífico. Para a Saúde, indicou Tom Price, crítico feroz do Obamacare. Até a compra do novo avião presidencial, autorizada pelo atual presidente, Barack Obama, foi vetada. “US$ 4 bilhões é ridículo. Cancelem o pedido”, determinou o eleito. “Trata-se claramente de uma operação de desmonte de todas as políticas públicas adotadas por Obama durante seus oito anos de mandato”, diz a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, Cristina Soreanu Pecequilo. “Ele está seguindo o script que prometeu durante toda a campanha, o que condiz com os anseios de seu eleitorado, mas representa para os Estados Unidos um grande retrocesso”. Também na semana passada, Trump comprou briga com os empresários americanos ao ameaçar taxar em 35% os produtos das companhias que deixarem o país, o que é inconstitucional.

Constrangimento

A vocação para conflitos provocou até um incidente diplomático. Trump cometeu a ousadia de ligar para a presidente do Taiwan, Tsai Ing-wen, o que fere um antigo acordo com os chineses. Detalhe: desde 1979, quando os Estados Unidos estabeleceram relações com a China, um líder americano não falava com a “província rebelde”. Para evitar mais constrangimentos e diminuir o peso de suas críticas contra a política econômica dos asiáticos, Trump escolheu Terry Branstad, um amigo de longa data do presidente chinês Xi Jinping, para ser o próximo embaixador em Pequim. É pouco perto dos danos que já causou.

Os radicais do governo
As indicações de Donald Trump para o novo gabinete representam uma guinada à direita

COMÉRCIO


Wilbur Ross, 78
Conhecido como o “Rei da Falência”, o ex-banqueiro defende renegociar todos os acordos comerciais vigentes e quer tirar os EUA do Tratado Transpacífico

SAÚDE


Tom Price, 62
O deputado republicano pela Georgia desde 2005 é crítico ferrenho do Obamacare, programa que subsidia planos de saúde

JUSTIÇA


Jeff Sessions, 69
Senador pelo Alabama desde 1996, foi um dos primeiros a apoiar Trump. Já enfrenteou acusações de racismo e se opõe à recepção de imigrantes

DIRETOR DA CIA


Mike Pompeo, 52
Deputado pelo Kansas desde 2010, quando embarcou no movimento ultraconservador Tea Party. É contra o acordo nuclear

DEFESA


James Mattis, 66
Apelidado de “Cachorro Louco”, o general já apontou o islã político como a maior ameaça aos EUA