O sucesso do programa de venda de ativos da J&F, dos irmãos Batista, está diretamente relacionado à conclusão do acordo de leniência do grupo, cujas tratativas ainda devem se arrastar pelas próximas semanas. Isso porque os contratos de venda das empresas do conglomerado, selados de julho para cá, incluem cláusulas que condicionam as transações à assinatura dos acordos com as autoridades, segundo duas fontes com acesso às negociações.

Apesar de o Ministério Público já ter homologado a leniência da holding J&F no mês passado, cada uma das companhias que compõem o grupo tem de aderir formalmente às tratativas. Vigor, Itambé e Alpargatas já aderiram “sem qualquer pendência”, segundo a J&F. Mas Eldorado e JBS ainda têm de cumprir esse trâmite. A expectativa é que ambas finalizem o processo em breve, diz a J&F.

O pedido de revisão de algumas das delações feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não interfere nas vendas, já que a leniência e as colaborações são negociadas de maneira independente. A leniência, que trata apenas da J&F (e não das pessoas físicas que cometeram crimes), corre em primeira instância e prevê o pagamento de R$ 10,3 bilhões aos cofres públicos.

Executivos próximos aos irmãos Joesley e Wesley Batista afirmam que, por essa razão, não deveria haver risco de prejuízo ao programa de venda de ativos. Mas mostram-se cautelosos. Um deles, que participa da reestruturação do grupo, diz que é preciso acompanhar os desdobramentos do pedido de Janot e os novos fatos políticos nos próximos dias para entender se as transações de venda estão de fato blindadas. As vendas de Eldorado, Vigor e Alpargatas somaram R$ 24,2 bilhões.

Fontes ligadas à canadense Brookfield, que negocia a compra de linhas de transmissão da Âmbar, dizem que não há recuo na intenção de fechar o negócio. Salvo surpresas na diligência, a compra deve ser concluída em breve. A expectativa é que a transação fique em cerca de R$ 900 milhões.

No sábado, a holding J&F anunciou a venda de seu maior ativo, a Eldorado, para o grupo Paper Excellence, da família indonésia Widjaja, que também é dona da Asia Pulp & Paper (APP), por R$ 15 bilhões. Fontes próximas às negociações afirmaram ao Estado que se, em última hipótese, o acordo de leniência não for homologado, há estruturas jurídicas que podem proteger o comprador de eventuais riscos. Essa fonte já dá como certo o atraso da homologação.

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Bancos

Os credores acompanham com atenção os novos capítulos da crise nos negócios dos Batistas. O acordo de alongamento de dívidas, que deu prazo maior à JBS para o pagamento de R$ 20,5 bilhões, está sacramentado, nas palavras de um banqueiro que participou do acerto e não será alterado diante da turbulência gerada pelos novos áudios. O executivo diz, porém, que o episódio dificulta as chances da empresa de conseguir crédito novo na praça. O acordo envolve um grupo de 14 bancos, entre eles Bradesco, Santander e Banco do Brasil – o Itaú fez um acerto à parte para renegociar R$ 1,2 bilhão.

Wesley em xeque

Outro ponto levantado por fontes do mercado financeiro é a permanência de Wesley Batista à frente da companhia. O grupo de alimentos e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) travam uma disputa societária.

O banco tornou pública a intenção de votar em assembleia geral extraordinária pela saída do empresário da presidência da JBS por entender que as delações da família implicam em danos à companhia. As duas partes entraram na Justiça, a assembleia foi adiada e o caso foi para arbitragem. O pedido de Janot deve dar mais munição ao banco e a minoritários. As ações ordinárias da JBS fecharam em queda de 8,28%, a R$ 7,87, a maior baixa do Ibovespa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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