Como ex-guerrilheiro, o líder uruguaio José Pepe Mujica sempre soube guardar segredos. Porém, quando lançou uma espécie de biografia autorizada, Mujica colocou Lula em maus lençóis. O ex-presidente uruguaio disse que o petista “confessou” que sabia bem do que se tratava o mensalão. A biografia sob o título “Uma oveja negra al poder” (Uma ovelha negra no poder) foi fruto do trabalho de cinco anos dos jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, da revista “Busqueda”. O uruguaio leu o livro antes de ser lançado. Em um dos trechos, Mujica disse que teve uma conversa com Lula em Brasília no seu final do mandato em 2010, quando o ex-presidente brasileiro lhe teria “confessado” a compra de apoio parlamentar no mensalão. Lula teria dito a Mujica que essa foi “a única forma de governar o Brasil” e que, enquanto presidente, havia lidado com “coisas imorais e chantagens”. “Lula não é um corrupto como Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros”, afirmando que o ex-presidente brasileiro viveu o episódio do mensalão com “angustia e um pouco de culpa”, disse Mujica no livro.

Pressionado por Lula e pelo PT, Mujica tentou recuar, negando a frase de que Lula teria confessado a existência do mensalão. Disse que não foi ele quem escreveu o livro. Mas os jornalistas reafirmaram o que escreveram. A relação ficou estremecida por um bom tempo. Os dois ficaram meses sem se falar, mas amigos em comum se encarregaram de refazer a ponte para o entendimento. Em março deste ano, Mujica voltou ao Brasil. Em Foz do Iguaçu, afirmou que a Operação Lava Jato tem interesses na “destruição do legado” do petista. “Há muita paixão política e pode haver interesses em acabar com a carreira de Lula”, disse Mujica. Lula entendeu a declaração como um gesto definitivo de reconciliação.


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