É praticamente impossível encontrar alguém que joga basquete e nunca disputou uma partida de 21. A tradicional peleja com os amigos ganhou regras próprias, recebeu o nome de 3×3 e depois de muito trabalho e insistência da Federação Internacional de Basquete (Fiba) se tornou uma modalidade olímpica. A possibilidade de conquistar uma medalha nos Jogos de Tóquio, em 2020, atraiu rapidamente a atenção e, ao mesmo tempo em que trouxe esperança, expôs o cenário de um esporte incipiente no Brasil.

O desenvolvimento da modalidade no País está aquém das principais potências. O cenário mundial é dominado pelos europeus, que adotaram uma estrutura profissional há muitos anos. A maioria dos jogadores é remunerada. Seleções e equipes trabalham com treinadores e preparadores físicos específicos para o 3×3, algo raríssimo por aqui.

A Europa acumula cinco títulos mundiais de seleções, sendo três no masculino e dois no feminino. A competição mais recente terminou na última quarta-feira. Em Nantes (França), os europeus ocuparam integralmente o pódio nos dois naipes. Entre os homens, a Sérvia conquistou o tricampeonato ao superar a Holanda. O bronze ficou com os anfitriões. A Rússia foi campeã entre as mulheres, com a Hungria em segundo e a Ucrânia em terceiro.

O Brasil não pôde participar. A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) foi liberada da suspensão da Fiba coincidentemente no dia da final do Mundial. O cenário desfavorável não significa que o caminho até o pódio em Tóquio está começando do zero. Ex-técnico de vôlei de praia, Francisco Oliveira, o Chico, trocou de esporte e trabalha com o 3×3 desde que viu um torneio em 2000, em Hong Kong. Ele está na CBB há nove anos e assumiu como gerente de desenvolvimento no departamento que leva o nome da modalidade, criado pelo presidente Guy Peixoto, eleito em março.

O primeiro passo foi tirar da gaveta o projeto Caça Talentos 3×3. A ação visa identificar atletas das categorias sub-18 e sub-23 com potencial para defender o Brasil internacionalmente. Na etapa do Campeonato Brasileiro de 3×3, que será realizado de 19 a 23 de julho, em Brasília, serão cadastrados 32 atletas (16 femininos e 16 masculinos). O procedimento será repetido em outras cidades que vão receber etapas, como Ribeirão Preto e Porto Alegre.

Atualmente não existe um técnico nem mesmo critérios definidos para convocações. A próxima participação do Brasil no 3×3 será nos Jogos Pan-Americanos da Juventude, em outubro, em Santiago (Chile). A lista, enviada com antecedência, foi confeccionada pelo próprio Chico. A CBB estuda a criação de uma seleção permanente, como acontece em outras modalidades.

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Além da busca por atletas, o Caças Talentos é importante para massificar o esporte e, desta maneira, tentar profissionalizá-lo. Durante os torneios serão realizados treinamentos específicos para técnicos e árbitros e palestras para procedimentos para estruturação de departamento específico nas federações e organização de competições.

Os torneios que são considerados válidos pela Fiba acontecem com organização da CBB e também da Associação Nacional de Basquete 3×3, que ganhou importância depois da suspensão imposta pela entidade máxima do basquete. Há diversas competições pelo mundo que envolvem equipes e não seleções. Em setembro, por exemplo, acontece um Masters no México, que contará com representantes enviados pelas duas entidades brasileiras.

A divisão de tarefas causa certo desconforto. Atualmente há um ranking da Fiba para determinar os melhores jogadores do mundo. A pontuação é baseada no desempenho nos torneios por equipes e seleções. A análise é que, como depende do números de participações, nem sempre os melhores são aqueles posicionados no topo da lista.

A única certeza é que será necessário um investimento maior para o Brasil almejar uma medalha. “Abrimos os olhos para o 3×3, mas os outros países vão fazer o mesmo”, alerta Chico. “O 3×3 será um plus. Espero conseguir um aumento de 20% a 30% nas negociações de patrocínio”, promete Guy Peixoto.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) não acena com o aumento do repasse imediato. A verba adicional para o 3×3 dependerá dos projetos que serão apresentados pela CBB para o desenvolvimento da modalidade. Até 2020, há esperança de que o esporte possa alcançar um bom nível. A medalha de prata no Mundial Sub-18, em Astana, no Casaquistão, em 2016, é um indício do potencial existente no País.

“A primeira medalha pode vir até antes do que eu imaginava”, afirma Guy Peixoto, que, ao assumir à presidência, disse que queria conquistar como dirigente uma medalha que não conseguiu como jogador.


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