Com foco no humor, começa hoje (23) a 28ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Serão exibidas até o dia 3 de setembro 365 produções de 55 países em seis salas da capital paulista, além de projeções em 17 Centros Educacionais Unificados.

“Hoje em dia a gente tem muitas radicalidades, muitas bravezas no mundo. Não é só no Brasil, é no mundo todo. E a gente pensou que o humor é um viés que ajuda as pessoas a conversarem”, comenta a diretora da mostra, Zita Carvalhosa, sobre o tema deste ano – “Humor em tempos de cólera”. Para Zita, esse viés é tanto “um jeito gostoso de ver o mundo” como uma forma elaborada de “criticar e pensar as coisas”.

Em sintonia com a proposta do festival, o cartaz é assinado pela cartunista Laerte Coutinho. “O humor da Laerte tem muito a ver com essa proposta que a gente tem de tratar as coisas diferentes”, diz a diretora sobre a escolha da artista que também assina os desenhos das vinhetas da mostra. Além de ser, segundo Zita, frequentadora do festival, a artista foi retratada em um filme lançado na edição de 2012. “A gente teve o privilégio de lançar aquele primeiro documentário que foi feito sobre ela pelo Kiko e a Claudinha”, acrescenta sobre o curta Vestido de Laerte, produzido por Kiko Goifman e dirigido por Claudia Priscilla e Pedro Marques.

Nesse contexto, é feita uma retrospectiva que traz produções como Recife Frio, de Kleber Mendonça, em que a capital pernambucana deixa de ser uma localidade tropical para se tornar fria e chuvosa. Também está na programação o curta de Esmir Filho, Tapa na Pantera, que chegou a ter 7 milhões de visualizações no YouTube, com Maria Alice Vergueiro no papel de uma consumidora de maconha. Entre as produções recentes, destaque para Demônia – Um Melodrama em 3 Atos, de Fernanda Chicollet e Cainan Baladez, que foi eleito o melhor curta-metragem pelo voto popular no Festival do Rio.

Temas atuais

Apesar dos impactos da crise econômica no cenário cultural, Zita avalia que a produção de curtas-metragens resiste com força e quantidade. “A gente teve uma sorte de que a crise veio junto com essa revolução tecnológica do digital que barateou a produção. Viabilizou uma produção de qualidade com um custo indireto menor”, analisou. Foram inscritos na mostra brasileira 658 filmes, de onde saiu a seleção de 96 obras que entraram na programação.

A resiliência dos cineastas que apostam nas produções de curta duração está ligada, na opinião da diretora, a um interesse de retratar o momento atual. “O curta-metragem é bem colado na realidade. A gente está com uma leva de filmes que estão tratando de assuntos bastante pesados. A gente teve até um programa especial de refugiados, que é olhar do outro, pessoas que saem de um lugar para outro e tem de enfrentar as novas realidade”, diz.

São filmes como o porto-riquenho O Presente, de Joel Pérez Irizarry, que traz a luta de uma mãe para impedir sua filha de ser mandada para os Estados Unidos. Ou como o peruano Monopólio da Estupidez, de Hernán Velit, em que um rapaz tenta vencer a burocracia para conseguir o atestado de óbito do pai.

As produções latino-americanas têm uma programação à parte no festival, com 28 curtas de 10 países. “Os filmes latinos conversam muito próximo com os filmes brasileiros”, comenta Zita, sobre a aproximação temática e estética com o cinema feito no Brasil.

A mostra internacional traz 60 filmes, de 33 países, como o documentário português Cidade Pequena, premiado com o Urso de Ouro em Berlim. Dirigido e produzido por Diogo Costa Amarante, o enredo passa por “naturezas mortas em movimento em uma pequena cidade”. Outro estrangeiro premiado é o chinês Uma Noite Suave que recebeu a Palma de Ouro em Cannes.

A programação completa pode ser vista na internet