Faltando dois meses para os Jogos Olímpicos do Rio, as federações esportivas estrangeiras pressionam os organizadores brasileiros, ao mesmo tempo que são orientadas a reduzir as suas expectativas sobre o evento diante da crise econômica e política que atravessa o País.

Nesta quinta-feira, dirigentes e políticos brasileiros apresentaram ao COI o que tem sido feito para corrigir a rota. O encontro, porém, deixou claro que o evento no Rio está sendo marcado pela falta de recursos, os atrasos em obras, a falta de data para a abertura do Velódromo, a recusa em aceitar pedidos de federações, a incerteza política, a venda de ingressos abaixo do esperado e até as suspeitas sobre o zika.

Faltando dois meses para a Olimpíada, os dirigentes são alertados de que suas exigências e expectativas terão de mudar. “O Brasil passou de ser um país que até encontrou petróleo e que tudo dava certo para a um país que deu tudo errado”, admitiu Craig Reedie, um dos vice-presidentes do COI e que não deixa de elogiar o trabalho do Comitê Organizador.

Por videoconferência, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, tentou dar garantias de que o presidente interino, Michel Temer, está comprometido com o evento e que, por serem do mesmo partido, a coordenação entre o governo federal e o municipal será maior. “Paes nos disse que Temer é seu amigo e que dará prioridade ao evento”, contou um dos vice-presidente do COI, John Coates.

Mas as desconfianças persistem. Reedie indicou que o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, terá um encontro com Michel Temer no próximo dia 16 justamente para garantir que o processo do impeachment de Dilma Rousseff não afete o evento.

O encontro ainda foi marcado por uma pressão do COI, diante de atrasos e de problemas ainda a serem resolvidos. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Rio-2016, deu garantias ao COI de que o velódromo estará em pleno funcionamento ao final de junho, meses depois da previsão inicial.

Por enquanto, porém, não existe um evento-teste marcado e a União Internacional de Ciclismo (UCI) se recusou a mandar seus atletas apenas para testar, sem uma competição. Paes também deu garantias de que o local estará pronto no fim do mês, depois que trocou de empresa que liderava a obra. As instalações ainda da esgrima, hipismo e tênis precisam de ajustes. “A questão equestre precisa ser resolvida. Está atrasado”, cobrou Reedie.

Outro ponto foi o orçamento. A Rio-2016 insiste que as contas estão “em equilíbrio”. Mas apresentaram dados apontando para riscos nestes próximos dois meses. As vendas de ingressos chegaram a só 67% da capacidade – 2 milhões de entradas ainda estão disponíveis, o que significa problemas para a receita. No caso dos Jogos Paralímpicos, as vendas apontam para apenas 24% das entradas. E isso por conta da decisão da prefeitura do Rio de comprar 500 mil ingressos para o evento.

“Eles ainda trabalham para ter um orçamento equilibrado”, disse Mark Adams, porta-voz do COI. “Fiemos muitos esforços e mostramos solidariedade com o povo brasileiro”, afirmou, numa referência à decisão do COI em abandonar algumas das exigências.

Dirigentes indicaram que, de fato, as diferentes modalidades esportivas e as federações já foram informados de que não poderão mais esperar um nível de exigência semelhante a Pequim-2008 ou Londres-2012. O presidente das Associações Olímpicas Europeias e integrante do COI, Patrick Joseph Hickey, espera que o “espírito carnavalesco” contamine o evento para compensar pelos problemas. “Os brasileiros são apaixonados pelo esporte”, disse. “Espero que o espírito carnavalesco entre e que tenhamos um grande evento”.