O Brasil voltou do Mundial de Atletismo, em Londres, com apenas uma medalha na bagagem. Caio Bonfim conquistou o bronze na marcha atlética de 20 quilômetros e mostrou que a modalidade vem sendo a que mais impulsiona os outros atletas do País, com resultados regulares e pódios nos últimos anos. Além dele, Erica Sena, também nos 20km, ficou na quarta colocação e por pouco não foi premiada. Já Nair da Rosa chegou em quinto nos 50km.

Ser um espelho para os outros atletas tem se tornado rotina para o pessoal da marcha atlética. “Acho que essa é a ideia de todos os atletas nas suas provas individuais. A gente fica feliz de poder dar o nosso melhor e ajudar. Estava em Daegu quando a Fabiana Murer ganhou o ouro e sei o quanto isso é importante. A geração é nova, precisa ter paciência, tem uma garotada muito boa no nosso atletismo e temos grandes chances de fazer um grande Mundial na próxima vez”, explicou Caio.

Ele vem tendo ótimos desempenhos internacionais e, além do bronze no Mundial, bateu o recorde brasileiro dos 20km na marcha atlética ao fazer 1h19min04. Já Erica Sena cravou o recorde sul-americano na mesma distância com 1h26min59 e dias depois foi anunciada pela Associação Internacional de Federações de Atletismo como campeã do Circuito Mundial de Marcha – no masculino, Caio ficou em segundo.

“Há vários anos a marcha atlética vem crescendo no Brasil. As conquistas recentes são resultado do trabalho de muito tempo, com crescimento constante desde o início dos anos 2000”, comentou José Antônio Martins Fernandes, o Toninho, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

Para o Mundial, Caio contou com a ajuda da entidade para fazer uma preparação final na Espanha, em região de altitude, enquanto Erica optou pela França. “Em 2015 não tive camping, mas para Olimpíada e nesse ano eu tive. Precisamos de oportunidade para abrir caminhos. A gente teve apoio, a CBAt está construindo em Bragança um CT que o atletismo não tinha, pude ir para alguns challenges, o Governo de Brasília entrou e fez uma parceira que ajudou, o COB também ajudou, tudo isso contribuiu bastante”, conta.

Para o torcedor, a ausência de medalha é sempre sentida, mas no projeto desenvolvido pela CBAt existe a avaliação que os resultados vão além dos finalistas nas provas. “Tivemos quatro semifinalistas e dois atletas que ficaram bem próximos da qualificação para a final. Os brasileiros estabeleceram recordes sul-americanos em duas provas, recorde brasileiro em uma, recordes pessoais em três provas e recordes da temporada”, explica Toninho.

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Ele revela, inclusive, que a entidade esperava um resultado melhor de alguns atletas e também que algumas ausências tiveram impacto no desempenho final. “Em algumas provas esperávamos um resultado melhor, caso do Darlan Romani no arremesso do peso. Também tivemos dois atletas importantes que se lesionaram e não puderam competir, como o campeão olímpico do salto com vara Thiago Braz e a triplista Nubia Soares, top 5 do mundo.”

Sem contar os atletas da marcha atlética, o melhor resultado foi da velocista Rosangela Santos, que foi sétima nos 100m e cravou o recorde sul-americano com 10s91. Assim, se na marcha os resultados já estão aparecendo, nas provas de velocidade e de fundo o trabalho ainda precisa ser maior. “A gente quer dar nosso melhor e torcemos para todos os atletas. O que a Rosangela fez, o revezamento, o que o pessoal dos saltos faz, tudo isso é bom. Para gente são resultados que valem como medalha. A gente como é o dia a dia da luta”, diz Caio.

Ele sabe que conquistar uma medalha no Mundial é bom porque ajuda o atletismo brasileiro a se desenvolver. Ele explica, inclusive, que a disputa em sua categoria é muito dura. “Essa geração compete junta desde moleque, com exceção do russo, que é mais novo. Consegui colocar o Brasil nessa briga e já ganhei do colombiano que foi ouro, já perdi para o australiano que ficou atrás de mim. Sempre são provas dificílimas”, argumenta.

Se a marcha atlética impulsiona o atletismo brasileiro, o que impulsiona Caio é o projeto social Centro de Atletismo de Sobradinho, tocado por sua família no Distrito Federal. “O clube é grátis, se tiver interesse e quiser treinar, vai ter café da manhã, uniforme, e temos um perfil de alto rendimento e de socialização também. Estamos precisando de mais esporte na escola, mais incentivo, e o sucesso da marcha ajuda. Muitos me perguntam sobre o esporte e isso é bacana”, conclui.


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