Após um acordo de paz crucial com a guerrilha das Farc, a Colômbia inicia nesta quinta-feira a contagem regressiva para o plebiscito com o qual busca tornar realidade as negociações, com o objetivo de deixar para trás mais de meio século de guerra interna.

Os colombianos receberam com alegria, mas também com ceticismo, o pacto alcançado na quarta-feira entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), que para se tornar efetivo deverá ser aprovado em uma votação convocada para 2 de outubro.

“Fica nas mãos de vocês – de todos os colombianos – decidir com seu voto se apoiam este acordo histórico que coloca fim a este longo conflito entre filhos de uma mesma nação”, disse o presidente ao anunciar ao país o início do fim “do sofrimento, da dor e da tragédia da guerra”.

Santos, um político de centro-direita artífice das negociações realizadas em Cuba desde novembro de 2012, anunciou que nesta quinta-feira enviará ao Congresso o texto definitivo do acordo final de seis pontos, e o publicará para que ninguém possa dizer que não o conhece.

O acordo pactado com a maior guerrilha da Colômbia, surgida de uma revolta camponesa em 1964, permitirá superar em grande parte um confronto que envolveu grupos armados de esquerda, paramilitares de direita e forças estatais, com um saldo de 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

Esperançosos, muitos exibiam na Colômbia na quarta-feira bandeiras do país e agitavam balões brancos celebrando a notícia. “É clamor popular, um grito nacional para que esta guerra fratricida acabe”, disse à AFP José Cruz, um ativista de direitos humanos.

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O quarto processo de paz com as Farc depois de tentativas frustradas em 1984, 1991 e 1999 prevê compromissos para solucionar o problema agrário e enfrentar o do narcotráfico, fonte de financiamento da violência. Além disso, estabelece mecanismos de reparação às vítimas e de justiça, assim como de participação política dos futuros ex-combatentes.

Um cessar-fogo bilateral e definitivo e o desarmamento dos rebeldes em um prazo de seis meses contados desde sua concentração em 23 zonas e oito acampamentos na Colômbia estão contemplados no pacto de Havana, que concede à ONU e a observadores internacionais a supervisão do processo.

Para o analista Jorge Restrepo, este acordo não apenas termina com a política com armas, mas permite que a Colômbia se dedique “por fim” aos problemas de política pública pendentes e ataque “de maneira mais efetiva” problemas que exportou, em particular o das drogas.

“É uma oportunidade de virar a página”, enfatizou o diretor do Centro de Recursos para a Análise de Conflitos (Cerac), sobre o dilema de seguir buscando vingança pelo “imenso dano” que as Farc fizeram ao país ou de tomar o “caminho do perdão”.


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