“Lula passionaliza imediatamente o debate, radicaliza uma divisão entre brasileiros”, sapecou Ciro Gomes em entrevista concedida à DW Brasil, ainda no começo da última semana. Anteriormente, o próprio ex-governador do Ceará opinara que Luiz Inácio prestaria um desserviço ao Brasil e a si mesmo, caso insistisse em candidatar-se à Presidência.

Quanto ao primeiro argumento, de tão óbvio dispensa comentários, mas o segundo impõe uma interessante reflexão: afinal de contas, a que desserviços Ciro se refere? Aventar que o chefe daria um tiro no pé ao tentar um novo pleito, por exemplo, das duas uma, denota ignorância ou uma pretensa esperteza eleitoral.

Bem diferente do que o pedetista tenta insinuar, e analisando o cenário sob um ponto de vista absolutamente estratégico, Lula faz muito bem ao antecipar sua candidatura. Afundado que está em processos e provas irrefutáveis contra si, não lhe restou outra estratégia a não ser a de rebobinar o esfarrapado personagem do Padim Ciço. Mal ou bem, desta forma criou um fato, e parece ter animado o que restou da sua militância.

Desserviço ao País? Tampouco. Torna-se cada vez mais alvissareira, aliás, a hipótese de que saia candidato. Já condenado em primeira instância, indiciado em outros processos, sem falar nas delações que devem surgir até lá, apenas um milagre o salvaria da derrota nas urnas — convenhamos, o único desfecho capaz de aplacar sua martirização.

Trocando em miúdos, ao tentar parecer um sujeito razoável e não o descompensado emocional que todos já conhecem, Ciro está apenas falando como o eterno pré-candidato que é. Não por acaso, tenta agora ensaiar um discurso moderado, que seduza o eleitor avesso a extremismo.

Pois, na verdade, trata-se de um sujeito ainda mais perigoso do que o próprio Lula. Esse já tem lugar reservado na história como o maior gângster político que o Brasil concebeu, mas nunca deixou de lado o pragmatismo para alcançar seus objetivos. Ciro Gomes, bem ao contrário, desfia a verve típica dos ideólogos. Não por acaso, passou por onze partidos até encontrar-se no PDT, legenda de mentecaptos clássicos como Leonel Brizola e, mais recentemente, Dilma Rousseff.

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Ciro, no fundo, tem um quê de Marina Silva: já foi ex-ministro de Lula, gosta de fazer barulho e não engana mais ninguém.

Trata-se de um sujeito ainda mais perigoso do que o próprio Lula. Esse já tem lugar reservado na história como o maior gângster político do País

 


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