Cientistas esclareceram pela primeira vez as ligações entre o autismo e a sinestesia, concluindo que pacientes nas duas condições têm uma sensibilidade sensorial notavelmente aumentada, embora apresentem diferenças na capacidade de comunicação.

A sinestesia é definida como uma “mistura de sentidos”, que faz com que, no cérebro do indivíduo, uma melodia desencadeie a visão de cores, ou que uma palavra tenha um determinado “gosto”, por exemplo. Segundo os autores, cerca de 3% da população mundial apresenta sinestesia. A forma mais frequente é associada a cores: a pessoa “vê” diferentes cores associadas a letras, ou a palavras como os nomes dos dias da semana, ou dos meses.

O autismo, por sua vez, é um distúrbio neurológico caracterizado por comprometimento da interação social e da comunicação verbal e não-verbal, produzindo um comportamento restrito e repetitivo. A condição atinge de 0,6% da população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O novo estudo foi liderado por cientistas das universidades de Sussex e de Cambridge, ambas no Reino Unido, e teve seus resultados publicados nesta terça-feira, 7, na revista “Scientific Reports”.

“A sinestesia tem sido tradicionalmente considerada mais como um talento especial do que como um comprometimento, enquanto o inverso ocorre com o autismo. Nosso estudo sugere que as duas condições têm muito mais em comum do que pensávamos, e que muitas das características sensoriais das pessoas autistas também são encontradas nas pessoas com sinestesia”, disse o autor principal do estudo, Jamie Ward, da Universidade de Sussex.

Dois estudos anteriores já haviam revelado que a sinestesia ocorre com frequência maior que o normal em pacientes com autismo, sugerindo que a ocorrência simultânea das duas condições não é um mero acaso. No entanto, ainda não haviam sido realizados estudos específicos sobre as ligações entre os sintomas.

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A nova pesquisa mostra que tanto as pessoas com autismo como aquelas com sinestesia têm uma sensibilidade sensorial aumentada, apresentando aversão a certos tipos de sons e luzes. Os dois grupos também apresentam uma tendência a focar em detalhes.

No entanto, segundo o estudo, as pessoas com sinestesia tendem a não apresentar os sintomas comunicativos que em geral aparecem nos autistas. Embora o estudo mostre que certamente há ligações entre as duas condições, elas parecem ser mais sensoriais que sociais, segundo os autores.

De acordo com Ward, seu grupo publicará em breve um novo estudo com foco na questão do “savantismo”. De acordo com ele, os dados preliminares do estudo mostram que a sinestesia tende a ser especialmente comum em pessoas com autismo que também possuem as capacidades conhecidas como “savantismo”, que incluem habilidades excepcionais em matemática, memória acima do normal e talento artístico superior.

“Embora seja ainda preciso realizar mais pesquisas, nossa compreensão sobre o autismo no contexto das capacidades sinestésicas poderá nos ajudar a desvendar os segredos de alguns dos aspectos mais positivos do autismo, como o ‘savantismo’, além de descobrir novas ligações neurológicas entre as duas condições”, afirmou Ward.

De acordo com Ward, embora algumas teorias proponham uma relação de causa e efeito entre a sensibilidade sensorial aumentada e o comprometimento social dos autistas, os novos estudos até agora indicam que a sinestesia está no mesmo espectro do autismo do ponto de vista sensorial.

“Esperamos que no futuro sejamos capazes de explorar mais a fundo a relação entre os sintomas e capacidades de percepção, cognição e interação social em pessoas com autismo e sinestesia”, disse Ward.


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