Principal evento dedicado à cultura do documentário não apenas no Brasil, mas na América Latina, o Festival Internacional É Tudo Verdade realizou, no sábado, 29, à noite, a entrega dos prêmios de sua 22.ª edição. Os júris estavam assim constituídos – o internacional, pelos diretores Alexandre O. Philippe e Anne Georget e pela produtora Jennifer Walton, o brasileiro, pelo diretor de fotografia Jacques Cheuiche, a produtora Daniela Capelatto e o diretor Joel Zito Araújo.

E o vencedor da competição brasileira de longa foi talvez o melhor filme de toda essa edição – Cidades Fantasmas, de Tyrell Spencer, produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre. O melhor latino foi Los Ninõs, de Maite Alberdi, do Chile, e o melhor da competição internacional – por unanimidade, destacou o júri -, Comunhão, de Anna Zamecka, da Polônia.

Pelo terceiro ano consecutivo, os vencedores nas competições brasileira e internacional de curtas estão automaticamente pré-selecionados para concorrer ao próximo Oscar, na medida em que a Academia de Hollywood concedeu essa distinção ao festival de Amir Labaki. Venceram, na categoria curtas – o brasileiro Boca de Fogo, de Luciano Pérez Fernández, e o internacional O Cuidador, de Joost Van Der Wiel, da Holanda.

Nenhum filme foi mais belo que o de Tyrell Spencer. O jovem diretor gaúcho assina seu primeiro filme. Na noite de apresentação de Cidades Fantasmas, em bom ‘gauchês’ – Bah! -, ele disse que estava muito emocionado por participar de um festival tão importante. Na premiação, a emoção foi maior ainda. “Todas essas críticas falando bem do meu filme. O adjetivo talentoso acrescentado ao jovem, para me definir. Foi demais!”

Cidades Fantasmas viaja por quatro cidades da América do Sul – Humberstone, no Chile; Fordilândia, no Pará/Brasil; Armero, na Colômbia; e Villa Epecuén, na Argentina. Duas foram abandonadas pelas populações quando terminaram os ciclos econômicos (do salitre e da borracha) que as sustentavam, Humberstone e Fordilândia. As outras duas foram destruídas por hecatombes naturais – as cinzas de um vulcão que entrou em erupção, na cidade colombiana, e a argentina inundada pelas águas de uma represa.

Causas naturais? Os sobreviventes que permanecem como sentinelas da memória desses lugares abandonados apontam o dedo acusador – o tráfico e a corrupção governamental, a intransigência da ditadura provocaram os desastres. Não apenas lugares. Vidas foram sacrificadas. O filme conta lindamente essa história. Dá voz aos que perderam suas coisas, não puderam enterrar seus mortos.

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Na sexta, 28, na aula magna de documentário que foi o encontro de João Moreira Salles com Eduardo Escorel no Centro Cultural São Paulo – para debater No Intenso Agora -, a questão forma vs. fundo esteve em pauta. (Para cinéfilos de carteirinha, o encontro, definido como ‘histórico’ por Amir Labaki, está disponibilizado no site www.etudoverdade.com.br.) Não foi só a tragédia embutida na história – o tema de Cidades Fantasmas – que seduziu os jurados. A forma do filme também é brilhante. O jovem não é só talentoso. Já é um mestre.

Os vencedores latino e internacional não são menos dilacerantes. Em Los Niños, portadores da Síndrome de Dawn, aos 50 anos, encaram o futuro – mortos seus pais, rejeitados pela sociedade, o que os aguarda? E os seus sonhos? E em A Comunhão, menina carrega uma família disfuncional – pai bêbado, irmão autista, a mãe que abandonou a todos e ela tenta arregimentar, aproveitando a comunhão do garoto.

Tudo é verdade, e o júri ressaltou que esses filmes trabalham a emoção sem golpes baixos. Com salas cheias, e grandes filmes, o 22º É Tudo Verdade já entrou para a história.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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