Cartas ao Prefeito/São Paulo – Pivô Arte e Pesquisa, SP – de 30/7 a 30/8
Carlito Carvalhosa fez carta-desenho (fragmento, acima)
Carlito Carvalhosa fez carta-desenho (fragmento, acima)

O arquiteto Márcio Kogan e os sócios do escritório Apiacás Arquitetos – Anderson Freitas, Acácia Furuya e Pedro de Barros – concordam em pelo menos um aspecto em relação à cidade em que vivem: a habilidade do paulistano em se adaptar às mais adversas situações e desenvolver soluções criativas para resolver os problemas. Kogan cita como exemplo “um sistema de transportes jamais visto ou pensado: o fura-fila”. Os sócios do Apiacás exaltam a resiliência do povo brasileiro, evocando a inventividade na manufatura de objetos de uso cotidiano. Eles estão entre os arquitetos convidados a escreverem cartas para o futuro prefeito da cidade, apresentando críticas, sugestões e ideias para a consciência pública e a agenda dos candidatos.

“Cartas ao Prefeito: São Paulo” é um projeto com curadoria dos arquitetos Bruno de Almeida e Fernando Falcón. Faz parte de uma iniciativa mundial concebida pela Storefront for Art and Architecture, que já passou por várias cidades. Aqui, as cartas – de arquitetos atuantes ou engajados em outras atividades profissionais – serão exibidas no Pivô Arte e Pesquisa, no Edifício Copan, centro de São Paulo, e posteriormente encaminhadas ao gabinete do prefeito.

Kogan redigiu uma “carta de amor à cidade” em forma de vídeo. O fotografo Cristiano Mascaro abriu mão de sua ferramenta de comunicação – a imagem – e escreveu uma carta intimista, confidenciando dividindo sua indignação e seus medos. Guilherme Wisnik, professor da FAU-USP, criou uma colagem, se apropriando de frames do seriado japonês “Spectreman” (1972) e fragmento de texto de Giulio Carlo Argan, para afirmar que São Paulo se encontra hoje em desvantagem na sua luta contra a opressão especulativa, a segregação e a desigualdade social.

Formado em arquitetura, o artista Carlito Carvalhosa fez uma carta-desenho, em que o texto sobre a memória de uma cidade que não existe mais é obstruído por faixas pretas. “Escolhi o preto pois os blocos negros quebram o discurso como os prédios em São Paulo quebram o lugar (só se vê a cidade pelas frestas). Temos que lembrar o que não vemos/lemos. Não se vê a cidade de uma vez só”, diz Carvalhosa à Istoé. Já a carta do Apiacás Arquitetos começa com uma epígrafe de Carlos Drummond de Andrade, “…a cidade sou eu, eu sou a cidade”.

Os curadores Almeida e Falcón foram os primeiros a reinventar o formato da carta. “Eu e o Fernando não escrevemos uma carta ao Prefeito. Achamos que a nossa contribuição para a exposição seria mais rica se lançássemos uma reflexão sobre o próprio conceito de carta, a sua simbologia e seu significado. A minha carta (ideal e utópica) para o Prefeito é exatamente essa meta-carta “explodida” que é a exposição e os seminários, essa reunião de vozes, experiências e vivências”, diz Bruno Almeida.

Integra o projeto o “Zapzap pro Prefeito”, que faz de qualquer cidadão paulistano um urbanista em potencial. Concebido por Giselle Beiguelman, professora da FAU-USP, convida o público a participar deste grande fórum mandando mensagens via whatsapp. As mensagens serão publicadas em um blog, editado pela revista seLecT. Ligue você também: 11-95046 9521. A cidade é você.