Essa semana estou em Nova York.
Cada passo que dou enfio o pé mais fundo na inveja.
Já estou até os joelhos e temo que até o final da viagem terei me afogado na areia movediça da humilhação.
Aquela sensação que ufanistas politicamente corretos
e petistas chamam de “complexo de vira-lata” eu chamo de “desesperança”.
Afinal vira-lata acho que não somos.
Nem você nem eu.
Somos, sim, cachorros de raça abandonados num canil.
Passeando por Nova York me dou conta de como arrancaram nosso pedigree.
E não adianta dizer: “então vai morar nos EUA” porque não vou.
Cachorro velho não aprende novos truques.
Nova York é a constatação inequívoca de que você e eu, brasileiros vivendo no Brasil, estamos abandonados ao descaso, vítimas de uma minoria de incompetentes e ladrões.
É só olhar em volta para ver como a vida
deveria ser.
Bastava que, ao invés de poodles, fôssemos pitbulls e tivéssemos colocado nossos políticos canalhas para correr.
Ao invés disso aceitamos um País sem saneamento, segurança, saúde, educação.
Sem futuro. Um País estolado.
Caminho pelas ruas e relembro como funciona o consumo num país capitalista.
Coisa de fazer Gleisi Hoffmann cortar os pulsos.
Não os dela, os do Lula, porque boba ela não é.
Você pode dizer “e desde quando o consumo é bom?”
Desde que decidimos ser capitalistas.
Consumir pode não ser uma boa sugestão para educar nossos filhos, mas olhando a big picture da big apple,
o que se vê é que o velho e bom consumo impõe farta geração de empregos, prosperidade, conforto.
No Brasil não.
No Brasil consumo é pecado.
Com o medo constante de inflação, enfiamos o rabo entre as pernas.
E eu, que nem liberal sou, lembro da frase de Milton Friedman: “Inflação é imposto disfarçado”.
Imposto que não vira serviço.
Em nome da reserva de mercado somos expostos
a produtos que constrangeriam os russos de tão ultrapassados.
Com a desculpa dos “projetos sociais” apertamos os cintos de todos – principal e injustamente dos que mais deveriam ser beneficiados.
Roubalheira do vereador que surrupia merenda escolar
ao presidente que se elege à custa de caixa dois.
E toca legislar em causa própria.
E toca julgar para favorecer os amigos.
E toca encarar com desfaçatez uma meta que é um buraco de 150 bilhões.
E nós ali, abanando os rabinhos.
Volto para minha caminhada da vergonha pelas ruas
de Nova York.
Agora estou na Washington Square.
Numa banquinha um sujeito vende adesivos e bottoms com a palavra “RESIST”.
O “T” final em amarelo deixa clara a referência ao Trump.
Fico maldosamente feliz ao lembrar que nem tudo deu certo para essa gente.
Compro um adesivo.
O sujeito pergunta de onde sou.
Por um segundo me alegro, certo de que ele vai me tirar dessa espiral pessimista com sua visão turística do Brasil.
Respondo prevendo que o sujeito vai sorrir amistoso, lembrar do nosso carnaval, do Pelé, quem sabe até
do Neymar.
Sempre foi assim.
Ele me olha com um olhar grave, quase um lamento.
— Tá feia a roubalheira por lá, hein meu amigo?
Juro. Nem esse carinho recebi.
Se ele me jogar um osso agora, agarro no ar.
O vira-lata aqui.

Bastava que, ao invés de poodles, fôssemos pitbulls e tivéssemos colocado nossos políticos canalhas para correr


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