O ato de se fantasiar como os heróis preferidos não é exagero nenhum para os fãs de grandes sagas. Colecionar objetos, roupas, filmes e tudo o que esteja associado a essas histórias também não é nada incomum. No caso do comediante Charles Ross, é possível dizer que ele foi além de tudo isso. Neste sábado, 27, e domingo, 28, o canadense apresenta seu One Man Lord of The Rings no Teatro Sérgio Cardoso, na programação do Festival Cultura Inglesa.

O espetáculo reúne os principais personagens da batalha épica criada por J. R. R. Tolkien, que foi mais tarde levada aos cinemas por Peter Jackson, verdadeiras paixões do ator. “O livro em si é uma proeza da imaginação e invenção ficcional desde a criação dos idiomas de cada raça e suas histórias. Os livros são grandes maravilhas. Já os filmes são um triunfo da adaptação e realização visual da obra-prima de Tolkien.”

Ainda que não seja viável recriar todas as detalhadas paisagens da Terra-Média, universo no qual vivem orcs, elfos, hobbits e outras criaturas, o ator aposta na capacidade de invocar personalidades tão singulares como a do hobbit Frodo, do mago Gandalf e do adorável Sméagol, que após ser corrompido por Um Anel, se transforma no sombrio Gollum. Além deles, Ross conta que buscou a proeza de trazer todos os personagens principais presentes nas trilogias A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei. “Vou desde as cenas dramáticas entre personagens até as espetaculares batalhas, isso inclui o ataque dos milhares de Uruk-hai no Abismo de Helm”, explica sobre o episódio de As Duas Torres no qual humanos lutaram contra uma linhagem especial de orcs que tentaram invadir a morada do povo de Rohan.

Por mais que o ator seja fã da saga, ele acrescenta que mais que imitar as vozes e trejeitos de tantas criaturas, o maior desafio foi organizar as três partes da história em um espetáculo de uma hora e dez minutos. O volume único da trilogia, por exemplo, tem cerca de 1.200 páginas. Já os três longas somam mais de nove horas de ação e aventura. “É difícil”, diz. “Levei pelo menos um ano de planejamento antes de escrever o que eu realmente queria realizar em cena. O que fiz e faço é ler e reler os livros, assistir e assistir aos filmes.” De alguma maneira, o ator não foi às cegas. Em 2001, ele adaptou a então trilogia de Star Wars, que fez temporada em mais de 110 cidades pelo mundo.

E para avaliar o resultado no palco, nada melhor que receber os atores que participaram da trilogia de Peter Jackson. Ross conta que desde que a peça estreou, entre 2004 e 2005, estiveram na plateia Ian McKellen, que viveu Gandalf, Billy Boyd e Dominic Monaghan, os hobbits Pippin e Merry, e John Rhys-Davies, que com a ajuda da tecnologia do cinema perdeu seus 1,85 m para interpretar o anão Gimli. “Posso garantir que todos eles adoraram”, confirma.

Para Ross, a trilogia escrita durante a 2.ª Guerra Mundial pelo autor britânico só marcou o começo de uma das mais importantes franquias mundiais. A mensagem de que o poder não está, necessariamente, nas mãos dos grandes passa também pelo ambíguo poder do Um Anel, que, na época, foi associado à bomba atômica ao revelar a faceta de destruição dos países em conflito, metáfora que não foi confirmada por Tolkien. “Nós estamos em busca do melhor dentro de cada um, algo que sempre estará desconhecido. À primeira vista, os hobbits não parecem ser grandes lutadores ou pensadores, mas possuem algo que lhes permitiu ir além da força e sabedoria. Eu acredito que a grandeza surge de muitas formas e tamanhos”, explica ainda Ross.

Em 1996, toda a aparente clareza nos conceitos de bem e mal dos personagens de Tolkien foi abalada com o a chegada do primeiro livro de Game of Thrones. Na época, motivos não faltaram para comparar a poesia da Terra-Média ao mundo amoral e violento de Westeros, criado pelo autor norte-americano – semelhante até no nome – George R. R. Martin, contra J. R. R. Tolkien. De alguma maneira, os verdadeiros fãs da Terra-Média, como Ross, permaneceram, e descobriram que é possível apreciar o melhor dos dois mundos. Nesse ritmo, ele anuncia que sua próxima empreitada será montar uma versão das Crônicas de Gelo e Fogo, que virou série na HBO e estreia sua 7ª temporada no dia 16 de julho. “A saga é um Senhor dos Anéis mais moderna. Eu adoraria fazer Game of Thrones, mas vou ter que esperar até que a história termine.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.