Há quase duas semanas, em 19 de maio, morreu Alexandre Astruc, inventor da câmera-caneta e um dos precursores da nouvelle vague, o movimento de renovação do cinema francês nos anos 1950 e 60. Na sexta, 27, morreu outro diretor ligado à chamada nova onda, mas o anúncio foi feito somente nesta segunda, 30, em Paris. Charles Bitsch tinha 85 anos e estava doente há muito tempo, informou sua mulher, agora viúva, num comunicado oficial.

Charles Bitsch não chegou a ser um inventor, como Astruc, nem desfrutou da popularidade, ou da reputação, dos grandes da nouvelle vague – Jean-Luc Godard, François Truffaut, Charles Chabrol, Jacques Rivette, Jean-Pierre Melville, embora sua trajetória tenha cruzado a de todos eles. Crítico da revista Cahiers du Cinéma, no fim dos anos 1950, Bitsch foi diretor de fotografia e assistente de direção em boa parte dos filmes do começo da carreira de Godard. Você encontra seu nome nas fichas de Tempo de Guerra, Alphaville, O Desprezo, Made in USA, Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela e A Chinesa.

Foi um grande amigo de Truffaut, mas, curiosamente, trabalhou pouco ou nada com ele. Foi parceiro de Rivette (Le Coup du Berger e Paris Nous Appartient), Chabrol (Nas Garras do Vício, Quem Matou Leda? e Les Bonnes Femmes) e Melville (Técnica de Um Delator). Sua primeira experiência como diretor foi num curta de 1953 – Les Trois Rendez-Vous, correalizado com Philippe De Broca. Boa parte de sua obra foi feita de episódios para os filmes coletivos que se tornaram frequentes no cinema europeu, especialmente no italiano e no francês, no começo dos anos 1960.

Cher Baiser (episódio de Les Baisers), Lucky la Chance, com Michel Piccoli (de La Chance et L’Amour) são os mais conhecidos. Na TV, Bitsch virou historiador… de cinema. Fez Le Film Noir Américain, episódio de Grand Écran, e prosseguiu na série com La Science Fiction, A Propos d’Othello, Jean Renoir Parmi Nous, Jerry Lewis e Si Guitry m’Avait Compté. Esse último é reputado como obra-prima. Reabilitando Sacha Guitry de sua fama de teatro filmado, Bitsch retraça com graça e ironia a história do cinema francês nos anos de 1930 a 50.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias