Difícil ouvir Father and Son, dos tempos em que Cat Stevens ainda não havia adotado o nome de Yusuf, e não se emocionar. Se alguma lágrima vier, deixe-a cair. Sinta a dor da partida cantada pelo britânico na canção que nunca foi hit – seu desempenho em paradas não passou de modesto. Stevens é frágil, esganiçado às vezes, mas a própria falha é necessária. Pai e filho, em caminhos unidos por sangue, despedem-se. “É hora de ir”, canta.

Embora a trilha sonora de Guardiães da Galáxia Vol. 2 seja tão festiva e colorida quanto o filme em si – cujo lançamento está marcado para quinta-feira, 27 -, é a canção de Stevens que figura no centro de toda a ação. Ela captura, em voz e violão, o significado do que é família, amor e arrependimentos. Stevens canta o presente, o rompimento com o passado para que o futuro possa chegar. Sem saber, ele narrava a jornada de Peter Quill, personagem de Cris Pratt, em 1970.

No primeiro filme, a mixtape gravada em fita cassete ouvida à exaustão por Quill o ligava à mãe, morta 30 anos antes.

James Gunn é preciso, mais uma vez, na escolha dessa trilha. A inocência do longa de 2014 era escancarada em músicas de The Jackson 5 e Blue Suede, mas o amor vencia, como na irânica Escape (The Pina Colada Song), de Rupert Holmes. O papo, agora, é outro. A segunda fita é um presente da mãe de Quill só aberto ao fim do primeiro filme. São canções que o ligam com a família, o seu pai desaparecido. Há mais acidez nas preciosidades pop desencavadas por Gunn – como Brandy (You’re a Fine Girl), do Looking Glass. A narrativa, mais uma vez, se faz pelas cores da escolhas do diretor – por isso, mesmo, não se preocupe se as lágrimas também jorrarem ao final da aventura de Quill, como na audição da canção de Stevens.


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