Direitos e representatividade negra e trans, cultura underground e sustentabilidade: a passarela é meio para mensagens de cunho político e social na 43ª edição da Casa de Criadores, encerrada na sexta, 27, no MAC-USP. Em cinco dias, 24 marcas apresentaram suas coleções ajudando a esboçar o que deve ser o futuro da moda brasileira voltado para causas ligadas a diversidade, feminismo e direitos LGBT.

Em termos de negócio, essa nova era é capitaneada por marcas “pequenas”, de menor difusão, que têm as redes sociais como principal canal de comunicação e vitrine, que experimentam modelos de comercialização alternativos, como a produção sob encomenda e a venda direta ao consumidor seguidor pelo WhatsApp ou Instagram.

“Eles têm um tamanho que é muito adequado, não dão passos maiores que a perna e ao mesmo tempo querem vender, têm uma história comercial bastante resolvida”, avalia André Hidalgo, o diretor do evento.

É esse o caso de grifes como a feminina Neriage, que mostrou uma coleção minimalista inspirada em O Velho e O Mar, de Hemingway, e tem suas peças vendidas no e-commerce Shop2Gether, e da Martins, Tom, jovem marca de moda sem gênero que investiu numa coleção de perfume grunge com formas amplas e misturas de xadrez – à venda na loja Pair e na Galeria Nacional, em São Paulo.

Criativamente falando, outra característica dessa geração de marcas e estilistas é o ativismo, um engajamento em pautas antes incomuns ao ambiente da moda. Essa “subversão” surge nos castings de modelos com gente de estaturas, pesos, cores, etnias e identidades de gênero variados, nos assuntos de que tratam os desfiles, na forma de apresentá-los…

Um dos melhores exemplos é o Brechó Replay. A marca mostrou personagens de uma escola imaginária onde não há bullying e alunos de química, bruxas, clubbers e skatistas se vestem e se divertem livremente, desfilando sobre carteiras com roupas vintage retrabalhadas (o chamado upcycling) na hora do recreio.

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A cultura gay foi assunto recorrente. A população LGBT em situação de rua foi a inspiração da coleção utilitária do estilista Weider Silveiro, enquanto Xica Manicongo, considerada uma das primeiras travestis brasileiras, inspirou a coleção afro-street de Isaac Silva. Rafael Caetano mostrou roupas que faziam uma ode aos personagens da Chueca madrilenha e da rua Frei Caneca paulistana, redutos LGBT, com roupas esportivas, sexy e glamourosas.

O carioca Fernando Cozendey fez um dos mais perturbadores desfiles da temporada, tratando do espinhoso tema do abuso infantil numa coleção “sem cor”, toda em bege, em que opôs volumes fofos e transparências que expunham os corpos das modelos.

A Ken-gá Bitchwear, estreante desta edição, foi no caminho oposto. Fez uma apresentação bem-humorada em que homenageou Elke Maravilha, com mulheres e drags de diferentes tipos em roupas de caráter performático (macacões e bodies metalizados, transparentes, cheios de franjas).

Outro destaque da Casa de Criadores foi Alê Brito, um dos estilistas da equipe da Ellus, que mostrou uma coleção em que misturou florais kitsch, vestidos sexy, alfaiataria urbana e jeans. (Colaborou Anna Rombino)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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