A indústria automobilística alemã é suspeita de ter formado um cartel durante décadas – e este novo escândalo pode custar muito caro às finanças e à imagem do setor, que ainda se recupera do “dieselgate”.

Se a suspeita de formação de cartel divulgada na revista Der Spiegel na última sexta-feira (21) estiver correta, a manipulação de 11 milhões de veículos a diesel pela Volkswagen, revelada em 2015, pode parecer pequena: os grandes construtores do país (Volkswagen, Audi, Porsche, BMW e Daimler) teriam realizados reuniões secretas desde a década de 1990, para combinar aspectos técnicos dos veículos, prejudicando os consumidores.

A Volkswagen teria feito “uma espécie de autodenúncia” às autoridades anticartel em julho de 2016, bem como a Daimler, esperando obter algum benefício por colaborar com as investigações, já que a multa por formação de cartel deve atingir montantes bem elevados.

No último verão (do Hemisfério Norte), a Daimler já amargou uma multa de 1 bilhão de euros, imposta pela Comissão Europeia, por combinar os preços de seus caminhões com outros três fabricantes europeus.

A multa de Bruxelas, ou do departamento anticartel da Alemanha, podem chegar a 10% do faturamento de cada empresa. Na prática, o valor alcançaria 50 bilhões de euros, com base nas receitas de 2016. A isso se somariam as denúncias de clientes, que não devem demorar.

O diretor da federação alemã de associações de consumidores, Klaus Müller, antecipou para o jornal Süddeutsche Zeitung que milhares de motoristas poderiam se queixar “por ter pagado preços caros demais” por seus veículos.

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– Sem investigação por enquanto –

A elucidação do possível conluio deve demorar bastante. Por ora, não há nenhuma investigação oficial. Bruxelas e o departamento anticartel da Alemanha confirmaram “ter recebido informações que estão sendo examinadas pela Comissão”, segundo o Executivo europeu.

O Conselho de vigilância da Volkswagen terá uma reunião excepcional nesta quarta-feira (26), mas a empresa ainda não se pronunciou. A Daimler se limitou a indicar que aplica seu programa interno de respeito ao direito à concorrência.

No domingo (23), a BMW negou qualquer acordo com seus concorrentes quanto às emissões de diesel e afirmou que não manipulou nenhum de seus carros. Segundo a Der Spiegel, o cartel automobilístico está parcialmente vinculado às emissões alteradas de gases poluentes.

As fabricantes teriam-se reunido várias vezes para determinar o tamanho dos depósitos de AdBlue, um aditivo que permite reduzir as emissões de óxido de nitrogênio, segundo a revista. Como os reservatórios grandes eram mais caros, as empresas teriam optado, em conjunto, por outros menores, cujo conteúdo não seria suficiente para eliminar as emissões.

– ‘Gigantesca fraude’ –

“Se isso se confirmar, vai custar bilhões de euros ao conjunto de fabricantes relacionados”, afirmou à AFP o especialista Frank Schwope, do banco alemão Nord/LB.

Esse temor se espalhou entre os investidores da Bolsa de Frankfurt, onde as ações das montadoras caíram após as revelações da última sexta-feira. Até as 9h55 GMT (6h55 de Brasília), a Volkswagen caía 2,90%, a 133,75 euros; a Daimler, 3,58%, a 60,34 euros; e a BMW, 2,59%, a 79,09 euros.

Além dos gastos potenciais, “manter transações secretas, com o escândalo do diesel como pano de fundo, é uma absoluta catástrofe para a credibilidade da indústria automobilística alemã”, alerta o diretor do Center of Automotive Management (CAM), Stefan Bratzel.

Com as eleições legislativas marcadas para setembro, o governo certamente vai elevar o tom sobre este assunto.

Próximo de Angela Merkel, o deputado conservador Volker Kauder convocou, nesta segunda-feira (24), que essa acusação seja passada a limpo.


“Duas coisas devem ser ditas claramente: o Direito e a Justiça também valem para a indústria automobilística”, afirmou.


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