07/07/2017 - 18:15
Na mesma temporada que comunicou aos contribuintes a redução de suas atividades de socorro, fiscalização e patrulhamento nas estradas brasileiras, por falta de recursos, a Polícia Rodoviária Federal deu sequência a um ato administrativo que bem representa – no País que já não emite passaportes para seus cidadãos – a matroca em que se encontra o Brasil. Um pregão realizado pela Superintendência Regional do Paraná, registrado no Portal de Compras do Governo, oficializou a aquisição de 15 mil carteiras de couro e 15 mil distintivos metálicos com brasões da PRF, kit destinado à identificação funcional de seus agentes. O preço consumado pelo lote foi de R$ 3,5 milhões. Muito além da oportunidade do gasto, num momento de alegada crise de caixa, chamam atenção a cifra carimbada na encomenda e os caminhos que levaram a ela. Noutro pregão realizada pelo órgão, em março passado, envolvendo idêntico material, a mesma corporação desembolsou R$ 600 mil em troca de 21.800 conjuntos de carteiras e brasões. No primeiro caso, cada peça custou R$ 116,00. No segundo, R$ 27,10. A diferença talvez tenha explicação nas peculiaridades do edital. Dessa vez, os responsáveis pela escolha da mercadoria determinaram que o fornecedor deveria provar “experiência com materiais de liga metálica por acabamento de deposição física de vapor” e oferecer peças com “gravação a laser”. O candidato ao contrato também precisaria exibir “capacidade técnica comprovada em fornecimento anterior de cinco mil peças de liga metálica”. Aperta daqui, detalha dali, os preciosismos resultaram na exclusão de todos os fornecedores possíveis, menos um: a Altero Design, de Sapiranga (RS). De todas as emergências possíveis no horizonte dos viajantes que cruzam nossas rodovias, certamente encontrar um patrulheiro com aquele tipo de carteirinha vistosa é o menos relevante. Talvez o sempre enfático ministro da Justiça, Torquato Jardim, chefe maior da Polícia Rodoviária Federal, possa fazê-la entender isso.
Crise
Ladeira abaixo
Na política, ensina a História, nada é tão ruim que não possa piorar… Já há estados onde pesquisas recentes apontam Michel Temer com apenas 4% de aprovação popular. O Palácio do Planalto conhece os números – e torce para que não sejam confirmados nas próximas sondagens dos grandes institutos de opinião pública, cujos resultados, especialmente os negativos, garantem espaço nobre no noticiário. Segundo a mesma fonte, o Ibope já estaria em campo.
Crise
Seguro família
Diva
Bel Canto
Uma das vozes líricas mais celebradas pela crítica global, a soprano americana Aprile Millo está a caminho do Brasil. Chega em agosto, trazida pelo diretor e empresário Fernando Bicudo, para cumprir agenda de quase três semanas em mais de uma capital. A programação inclui uma apresentação no Cristo Redentor, em espetáculo pedindo paz no mundo, um recital no Teatro Municipal, dia 20, com renda em beneficio da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém, e um “master class” de canto ainda sendo produzido.
Rock in Rio
Adeus às guitarras?
Apesar do título “Meu último Rock in Rio”, dado ao artigo que assinou terça-feira 4, no jornal “O Globo”, Roberto Medina ainda não decidiu afastar-se do megaevento que criou em 1985. Desolado com a crise geral que assola a cidade, o empresário centra fogo nos políticos: “se essa gente tomar um mínimo de vergonha na cara e agir seriamente, vou ficar e ajudar, mas não estou otimista. Caso contrário, passo o bastão do festival para meus filhos”.
Ventilador
Lá vem bomba
Nem só delações premiadas continuarão alimentando as emoções nacionais. O dono de uma grande empresa brasileira de transportes – bota grande nisso – se prepara para revelar espontaneamente um vigoroso esquema de fraudes em empréstimos concedidos pelo Banco do Brasil. Os golpes teriam sido cometidos ao longo dos últimos 10 anos, com prejuízo que o advogado do executivo estima em R$ 700 milhões. Os beneficiários atuam em diversos setores da economia. Entre os alvos nominais da denúncia estão ex-presidentes e ex-diretores do próprio BB, além de um ex-senador.
CCJ
Nikiti no poder
Repentinamente alçado às manchetes nacionais, o deputado Sérgio Zweiter, ungido relator da denúncia contra Temer, está provocando rebuliço em Niterói. Figura popular em Icaraí, onde cresceu e ainda vive, ele vem sendo motivo de apostas entre amigos de juventude, empenhados em adivinhar o rumo do parecer que apresentará à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. “Pivete”, como era carinhosamente chamado pelos colegas de praia, jamais esteve tão em evidência. Em tempo: nas mesmas areias, o titular dessa coluna atendia pela alcunha “Pato Feio”.
Lava Jato 1
Novos na festa
Dos 166 inquéritos relacionados à Lava Jato em tramitação no Supremo, nove ainda continuam sob sigilo. Seus relatores: ministros Edson Fachin (4), Celso de Melo (3), Ricardo Lewandowski (1) e Luís Roberto Barroso (1). Em pelo menos um deles há informações atingindo bancos privados. Em outro, aparece o nome de uma estatal até aqui virgem nos escândalos.
Lava Jato 2
Falta o batom
Pesquisa do repórter Pablo Fernandes, da BandNews FM, descobriu que não será fácil vincular boa parte das delações da JBS à corrupção. Ele peneirou a lista de propinas que a empresa disse ter distribuído a 1.829 políticos e constatou que todos os valores pesquisados, especialmente os maiores, estão comportadamente registrados no TSE, moeda por moeda. Se provas de crime não surgirem, teremos um oceano de inocências.