Sergio Cabral começou a ser preso em 2012, quando foram publicadas as fotos de suas farras em Paris e Mônaco. Nas imagens, de 2009, alguns de seus secretários se divertiam com guardanapos na cabeça. As esposas imitavam uma cena célebre do seriado Sex and the City e exibiam seus sapatos Louboutin diante da vitrine. E Cabral, num vídeo em que comemorava o aniversário da esposa Adriana Ancelmo, dizia que o restaurante onde estava, o Louis XV, era “o melhor Alain Ducasse do mundo”, referindo-se ao chefe mais premiado da gastronomia francesa.

Preso na última quinta-feira, Cabral se torna o símbolo da ruína do Rio de Janeiro, estado que, em 2014, sediou a final da Copa do Mundo num Maracanã superfaturado e, neste ano, foi palco das Olimpíadas. No “melhor Alain Ducasse do mundo”, Cabral estava acompanhado do amigão Fernando Cavendish, dono da Delta Engenharia e um dos responsáveis pela reforma do Maraca. Recentemente, o empreiteiro disse ter comprado para Adriana, a mando do ex-governador, um anel de R$ 800 mil.
Sabe-se agora que Cabral também recebia mesadas das empreiteiras: R$ 350 mil da Andrade Gutierrez e R$ 500 mil da Carioca Engenharia, no que foi chamado de “taxa de oxigênio”. Ao todo, estima-se que ele e seu grupo tenham recebido mais de R$ 40 milhões e desviado, só com a Andrade e a Carioca, sem falar na Delta e na Odebrecht, R$ 224 milhões.

O dinheiro dos programas sociais, como o que oferece refeições a um real, acabou porque Cabral foi guloso. Em Mônaco e em Paris

Corte agora para o Rio de Janeiro dos dias atuais. Todos os dias a Assembleia Legislativa tem sido cercada por servidores ensandecidos. O motivo é o pacote de arrocho fiscal que vem sendo defendido pelo governador Luiz Fernando Pezão, escolhido no PMDB pelo próprio Cabral para sucedê-lo. Entre as medidas, constam aumentos de impostos sobre a energia elétrica, a imposição de uma taxa de 30% sobre os salários do funcionalismo e o fim dos programas sociais, como o que oferece milhares de refeições diárias por um real. Evidentemente, não é fácil aceitar uma mordida tão violenta por um governo que perdeu totalmente sua credibilidade.

Ao todo, o programa dos restaurantes populares do Rio de Janeiro custa R$ 56 milhões por ano aos cofres estaduais, beneficiando milhares de famílias de baixa de renda. Ou seja: é 25% do que foi desviado por apenas duas empreiteiras e quase a mesma coisa que Cabral e seus secretários receberam em mesadas. Além disso, o escritório de advocacia de Adriana Ancelmo recebeu R$ 27,3 milhões de empresas que levaram mais de R$ 4 bilhões em isenções fiscais.

Com o pacote de Pezão, muitos dos que têm fome não terão o que comer no Rio de Janeiro. Um dos motivos foi a gula de Cabral e sua turma. Exageraram. Foram gulosos demais. Em Mônaco e em Paris.