Uma cabine blindada – com dois andares e seteiras, pequenas janelas que possibilitam disparos de armas de fogo – está fincada em Nova Brasília, no Complexo do Alemão, no Rio. É apontada por especialistas como símbolo do fracasso da política de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas cariocas. Desde a instalação, na última sexta, confrontos da Polícia Militar com traficantes recrudesceram, deixando quatro mortos e cinco feridos.

A estrutura é defendida pela PM como essencial para enfrentar criminosos. Eles voltaram à região, depois de expulsos por forças de segurança em 2010, e retomaram o tráfico de drogas. As 4 UPPs do Complexo foram instaladas em 2012, dois anos após a megaoperação que envolveu 2,7 mil homens, entre PMs, policiais civis e federais, além de militares.

O objetivo oficial era iniciar a ocupação territorial do Complexo pelo Estado. Na prática, porém, a área logo retomou a rotina de conflitos com vítimas entre moradores e PMs. Já em 2011, relatórios de inteligência das forças de segurança registravam a volta de criminosos, inicialmente discreta. Um marco disso foi a morte, em 2014, do comandante da UPP Nova Brasília, baleado em confronto.

O teleférico instalado no Complexo em 2011, parou de funcionar em 2016. Não resistiu à crise a do Rio e aos tiroteios, que causaram interrupções sucessivas no serviço.

Os episódios de confronto são o inverso do planejado: uma polícia de proximidade, para prevenir conflitos e reduzir a violência. A falta de programas sociais, denunciada no passado pelo agora ex-secretário José Mariano Beltrame e a concentração em ações militarizadas, com desprezo pela investigação, são vistas como erros.

“As forças de segurança vêm apostando no confronto e na guerra contra drogas absurdamente insana, que tem causado a morte de policiais, moradores e traficantes”, diz Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Essa política de segurança foi iniciada nos governos Sérgio Cabral Filho (2007-2014), do PMDB, agora preso em Bangu 8 por corrupção.

Em nota, a assessoria de imprensa das UPPs disse que a instalação do equipamento foi feita “visando à retomada do território”. Além de confrontos – já na sexta, três morreram-, a instalação da cabine foi marcada pela invasão pela PM, sem mandado judicial, de casas de moradores que estariam vazias perto do local. A iniciativa, defendida pela PM, causou protestos.

“O local estava sendo usado como ponto de observação de criminosos e venda de drogas”, diz o texto. Segundo a nota, cabe ressaltar que cabines são pontos de apoio para o patrulhamento, que na região é feito a pé e com viaturas. A nova estrutura está em área de tráfico de drogas dominada pela facção criminosa Comando Vermelho.

Segundo a PM, falta apenas terminar a parte elétrica e hidráulica da base para que ela opere. A torre tem banheiro e um pequeno local para refeição.

Entraves

Ex-comandante-geral da PM fluminense e coronel da reserva, Ibis Pereira Silva também critica a cabine. Para ele, admitir que só é possível seguir com o programa de segurança assim atesta o colapso da UPP. “Seria muito mais humano, mais racional, recuar e repensar o programa, mas a polícia não tem coragem de fazer isso e prefere promover uma guerra. Além disso, a maluquice de trabalhar em uma área perigosa, dentro de estrutura blindada, vai custar a vida de moradores e a saúde mental dos policiais.”

Já o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), vê a cabine como positiva. A ação urgente em curto prazo, diz, é necessária em território que o Estado não consegue controlar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.