Reino Unido  2016/Mundo

O mundo acordou de ressaca, em 24 de junho de 2016. Os britânicos haviam escolhido, numa eleição apertada, deixar de fazer parte da União Europeia, bloco econômico que o Reino Unido havia ajudado a construir desde 1973. Acabava ali — no episódio que ficou conhecido como Brexit —, a ilusão de que um mundo mais unido, sem fronteiras e sem conflitos, pudesse se tornar uma realidade.

Nas ruas, os jovens estavam chocados. As cenas dos milhares de refugiados mortos na travessia do Mediterrâneo, precisando desesperadamente de ajuda, parecia ainda mais triste, com a perspectiva das barreiras ficando maiores. A possibilidade de conseguir emprego ou de estudar nos outros países do bloco também se tornava mais remota. O comércio e os investimentos certamente diminuiriam.

A eleição havia sido decidida por uma margem estreita pelos britânicos mais velhos, das pequenas cidades do interior e conservadores. Assustados com a invasão dos estrangeiros e estimulados por um discurso de que, sem participar do bloco, o Reino Unido economizaria 4 bilhões de libras ao ano (a diferença entre a contribuição financeira ao bloco e o investimento recebidos de volta), eles votaram pela saída. “O grande ponto de interrogação que ficou para os britânicos é: o que conseguiremos alcançar sem a União Europeia?”, diz o britânico Anthony Pereira, cientista político e brasilianista, diretor do Instituto Brasil do King’s College, de Londres. “Para os conservadores, tudo parece ser muito simples, mas os progressistas precisam encontrar uma maneira, nesse caminho, de manter o Estado de bem estar social.”

Retrocesso

Para se ter uma ideia, 52% das exportações britânicas eram feitas para outros países do bloco. Com o fluxo mais difícil de comércio e pessoas, a riqueza do país deve encolher. As estimativas do FMI (Fundo Monetário Internacional) são de que o PIB do país encolha entre 1,5% e 9,5%.

O principal problema do Brexit é que ele talvez não se restrinja ao Reino Unido. Os analistas políticos temem que a saída dos britânicos desencadeie uma reação que termine por esfacelar — ou ao menos enfraquecer — essa integração. Movimentos separatistas e populistas se fortalecem em países como a Espanha, a França e a Holanda. “É impossível prever o que vai acontecer”, afirma o espanhol Aaron Matta, analista sênior Instituto Global Para Justiça de Haia. “Mas se a UE terminar comprometida, seria um retrocesso enorme do ponto de vista econômico, social e humano.”

“O grande ponto de interrogação que ficou para os britânicos é: o que conseguiremos alcançar sem a União Europeia?” Anthony Pereira, cientista político e brasilianista, diretor do Instituto Brasil do King’s College, de Londres
“O grande ponto de interrogação que ficou para os britânicos é: o que conseguiremos alcançar sem a União Europeia?” Anthony Pereira, cientista político e brasilianista, diretor do Instituto Brasil do King’s College, de Londres