A queda brusca de temperatura provocada pela massa polar que atravessou o País na semana passada atingiu não só as regiões acostumadas com as baixas temperaturas durante o inverno e avançou para territórios historicamente mais quentes, como o Centro-Oeste e o Nordeste. Em Santa Inês, cidade do Maranhão, que costuma registrar entre 35º C e 38º C, a população estranhou ao acordar com a temperatura marcando os 20º C.

No Rio de Janeiro, os moradores chamaram a atenção dos turistas europeus ao reclamarem dos termômetros marcando 13º C. Já no Sul, como esperado, teve neve granular e cachoeiras congeladas. No Rio Grande do Sul, 17 cidades marcaram temperaturas negativas. Em Santa Catarina, ao menos 58 municípios ficaram abaixo de zero, inclusive cidades litorâneas. A cidade recordista foi Bom Jardim da Serra, onde os termômetros chegaram a –8,8º C.

“As estradas congelaram e o frio era insuportável”, afirma o empresário catarinense Marcelo Schlickmann, que na semana passada esteve nas cidades de Bom Jardim da Serra e São Joaquim. “Eu já viajei para muitos lugares com neve, mas aqui, por conta da umidade, a sensação térmica de frio é impressionante”. A rodovia estadual SC-110 em Urubici, na serra catarinense, ficou mais de três horas interditada por causa do gelo na pista. A neve, em sua forma granular (quando os flocos congelam ao atingir o solo), atingiu o interior do Paraná. Em Curitiba e São Paulo, moradores de ruas morreram por hipotermia.

GELO A massa de ar frio mudou a paisagem no Sul do País, com árvores congeladas e termômetro marcando -5º C. A sensação térmica foi descrita como “insuportável” até por quem está habituado à neve

A explicação para tanto frio, segundo os meteorologistas, é que desta vez o País não está sofrendo os efeitos do El Niño, o fenômeno atmosférico que tem como característica o aquecimento anormal de águas superficiais no Oceano Pacífico.

O El Niño inibe a entrada de frentes frias e de massas de ar polar, fazendo as temperaturas subirem. Foi isso que aconteceu no Brasil, com mais intensidade, entre novembro de 2014 e abril de 2016 — o que deixou a população desacostumada a um frio tão rigoroso como o da semana passada.

Sem a interferência do fenômeno atmosférico, o País voltou a ter um inverno gelado. A massa polar veio da Argentina, onde causou uma nevasca colossal. O aeroporto de Bariloche foi fechado e turistas ficaram impedidos de deixar a cidade.

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A intensa onda de frio levou a especulações sobre o impacto que o desprendimento de uma gigantesca placa continental da Península Antártica, na semana anterior, poderia ter causado no clima. As consequências do evento, resultado do aquecimento global, ainda não são totalmente previsíveis.

NEVASCA HISTÓRICA

A semana de frio intenso coincidiu com os 60 anos da maior nevasca da história de Santa Catarina e a segunda maior do país (a primeira foi em Vacaria, no Rio Grande do Sul, em 1979). A neve atingiu São Joaquim, na serra catarinense, no dia 20 de julho de 1957, e deixou a cidade, que tinha aproximadamente 10 mil habitantes, isolada. De acordo com os moradores do local, começou a nevar por volta das 10h e às 16h, o nível de neve já ultrapassava os para-choques dos carros.

Com praticamente um dia inteiro de neve ininterrupta, o acúmulo atingiu picos de 1,30 m. Todas as estradas ficaram cobertas de gelo. No terceiro dia após a neve, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) precisou se deslocar de Curitiba para levar alimentos, remédios e roupas para a cidade. Muitas pessoas ficaram desabrigadas, porque o telhado das casas acabou cedendo com o peso da neve. Animais de estimação também morreram por causa das temperaturas baixas. Os acessos a São Joaquim só foram retomados uma semana depois, quando todo o gelo derreteu.

Para a alegria dos que preferem o calor, desta vez a onda de frio não será duradoura. De acordo com o Menedes Luiz Melo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas vão ficar mais altas até que outra massa polar se aproxime. Melo destaca que essa não é a primeira e sim a quarta onda de frio a castigar o brasileiro em 2017. “A diferença é que dessa vez tivemos mais dias seguidos de temperaturas baixas”.

RECORDE A nevasca que cobriu Santa Catarina em julho de 1957:o telhado das casas cedeu com o peso da neve


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