O Brasil está perdendo a batalha contra dois dos principais indicadores de Aids: o número de novos casos e as mortes pela doença. Dados divulgados nesta quarta-feira, 30, pelo Ministério da Saúde mostram que as taxas registradas no ano passado de infecções e de óbitos são praticamente as mesmas relatadas há dez anos. É como se todo o avanço científico nesse período não tivesse trazido benefícios ao País.

As taxas de mortalidade cresceram nas Regiões Norte e Nordeste e caíram no Sudeste, entre 2005 e 2015. Como consequência, a estatística nacional fica inalterada. São 5,6 óbitos a cada 100 mil habitantes. A diretora do departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais, Adele Benzaken, atribuiu o problema sobretudo a falhas de atendimento em determinadas regiões e ao diagnóstico tardio.

Uma das estratégias do governo para reverter esse quadro é tentar antecipar o diagnóstico e o início do tratamento de pacientes Atualmente, cerca de 112 mil pessoas no Brasil vivem com o HIV e desconhecem essa condição. Pelos cálculos do Ministério da Saúde, outras 260 mil sabem que têm o vírus, mas não querem iniciar o tratamento. “Hoje não há mais dúvidas de que essa é a melhor estratégia. Tratamento é o que temos de melhor para pessoas com o vírus”, disse Adele.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que pessoas que resistem ao tratamento “merecem apoio psicológico e espiritual”. Ele afirmou haver ainda preconceito em relação à doença. “Muitos jovens temem o bullying dos colegas.”

Para o coordenador de projetos da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Juan Raxach, o problema é fruto sobretudo das lacunas de informação relacionadas à Aids. “Um exemplo emblemático é o Rio Grande do Sul, que concentra dados epidemiológicos alarmantes. No Estado mais afetado, praticamente não existem campanhas de conscientização, ações educativas, distribuição de preservativos, nada.”

Homens com homens

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Um dos pontos que mais provocam preocupação é o aumento de casos de Aids entre a população jovem masculina. Na faixa de 20 a 24 anos, a taxa de detecção dobrou entre 2005 e 2015, passando de 16,2 casos por 100 mil habitantes para 33 casos por 100 mil. Entre homens, a redução de casos novos ocorreu apenas na faixa etária entre 35 e 49 anos. No grupo feminino, a tendência foi inversa, com redução do número de casos na faixa etária de 20 a 49 anos.

O maior avanço da doença ocorre entre homens que fazem sexo com homens. Esse é considerado como um dos grupos mais vulneráveis à infecção. O problema não vem de hoje e há tempos vem sendo alvo de alertas por representantes de organizações não-governamentais e especialistas em HIV-Aids. Em 2015, a forma de contágio homossexual representava 22,6% dos casos novos da doença identificados entre a população masculina. Esse porcentual subiu de forma expressiva durante esse período. Ano passado, essa forma de contágio representava 36,5%.

Para tentar conter esse avanço, o Brasil vai implementar no primeiro semestre de 2017 o uso de antirretrovirais entre pessoas saudáveis, como forma de evitar a contaminação pelo HIV. Batizada de Terapia Pré-Exposição (PREP), a estratégia está prevista para ser implementada em todas as capitais e ficará restrita à parcela da população considerada mais vulnerável à contaminação: homens que fazem sexo com homens, travestis, profissionais do sexo e casais em que apenas um dos parceiros tem HIV. O Dia Mundial de Luta contra a Aids será celebrado nesta quinta-feira, dia 1° de dezembro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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