Não deveriam causar estranheza, nos analistas políticos e econômicos, os primeiros gestos do presidente interino Michel Temer, que, nesta semana, pediu uma salva de palmas aos parlamentares que aprovaram reajustes para várias categorias do funcionalismo, com aumentos que custarão mais de R$ 50 bilhões aos cofres públicos em quatro anos.

Mais do simplesmente aplaudir, Temer também disse que os reajustes cabem na nova meta fiscal, que prevê um déficit de R$ 170 bilhões neste ano. Qual seria lógica de um governo, que chega ao poder após denúncias de descalabro fiscal da antecessora, promover novos aumentos e tolerar um rombo ainda maior?

A resposta está na política e não na economia. Enquanto for interino, Temer só fará “bondades”. Ao mesmo tempo, ele não pode desapontar o empresariado, que tanto apostou na necessidade de uma troca de regime de no Brasil. Por isso mesmo, também na semana passada, o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, disse que as reformas previdenciária e trabalhista não foram esquecidas e ocorrerão ainda em 2016 – só não disse que isso virá depois da votação final do impeachment no Senado. Ou seja, as “maldades” ficam para depois.

É aí que entra um outro aspecto do xadrez político no Brasil. Enquanto os governistas se esforçam para votar o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff ainda em julho, a oposição fará de tudo para atravessar a Rio 2016 com essa discussão ainda em aberto. Especialmente porque os Jogos Olímpicos seriam a oportunidade ideal para denunciar ao mundo as contradições do processo político brasileiro.

A única certeza é que, enquanto for interino, Temer estará  mais para José Sarney do que para Margareth Thatcher. Depois, são outros quinhentos.

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