O episcopado do Brasil, o maior país católico do mundo, saudou nesta segunda-feira a “forte” e “significativa” decisão do papa de estender a capacidade dos padres de absolver o “pecado do aborto”, comemorada pela ONG Católicas pelo direito de Decidir.

“O papa Francisco, com esta iniciativa, lembra a gravidade do aborto e o poder extraordinário da misericórdia divina capaz de curar todas as feridas humanos”, declarou o secret-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Leonardo Ulrich Steiner, em um comentário enviado à AFP.

O agrupamento de bispos “naturalmente saúda esta nova orientação como um gesto misericordioso do Santo Padre, mas reiteramos que será cada bispo, em sua diocese, a autoridade capaz de dar a orientação necessária sobre este assunto ao clero e ao povo”, afirmou o bispo.

Ao tornar indefinida uma medida que foi estabelecida para o Jubileu da Misericórdia, o papa fechou o ano “com um gesto forte e significativo”, mas reiterou que “o aborto é um pecado grave que termina com uma vida humana inocente”, acrescentou Ulrich.

Até agora, apenas os bispos e padres especialmente autorizados tinham a possibilidade de absolver uma mulher católica que fez um aborto ou uma pessoa que a teria ajudado.

O anúncio do Vaticano foi comemorado pela organização Católicas pelo Direito de Decidir (CDD), embora considere que a medida poderia ter ido mais longe, considerando deixar a interrupção voluntária da gravidez como um “pecado”.

“Esta é uma excelente notícia porque nós consideramos que essa medida com uma data de expiração não fazia sentido. Era uma coisa assustadora, porque abria uma exceção para, em seguida, culpabilizar novamente as mulheres, quando o que elas precisam é de compreensão e apoio, e não condenação”, disse à AFP a coordenadora da ONG no Brasil, Rosangela Talib.

No entanto, o CDD pede ao papa novos passos.

“A proibição do aborto faz pouco sentido, é como proibir o contraceptivo para os católicos (…), e só penaliza as mulheres pobres”, disse Talib.

No Brasil, o aborto é legal somente em casos de estupro, quando a vida da mãe está em perigo ou em caso de fetos anencéfalos (com ausência parcial ou total do cérebro).