Logo no início de seus Ensaios, Montaigne alerta que, “se fosse para buscar os favores do mundo, teria me enfeitado de belezas emprestadas”. Com isso ele quis dizer que, se fosse para agradar, falaria o que os outros já tinham falado e causado agrado. Repetiria obviedades plenamente aceitas pelo senso comum.

As belezas emprestadas são abundantes no Brasil de hoje. E contaminam todas as narrativas. Em especial, a das celebridades, que se sentem compelidas a se posicionarem sobre o que não entendem e não têm a humildade de reconhecer sua ignorância. Habitam, em um reino rarefeito de reflexões, a dimensão do “com certeza”. Digerindo factoides regurgitam bons-mocismos e soltam fogos de artifício sobre temas dos quais nada sabem. São opiniões de artifício.

Montaigne também recomendava ao leitor que abandonasse o seu livro porque o conteúdo tratava apenas do que ele pensava: “Sou eu mesmo a matéria do meu livro.” Quantos teriam, no meio da nossa cultura pop, a arrogante humildade que Montaigne teve ao assumir a carga de suas opiniões sem se importar em agradar? No Brasil de hoje, vejo muito poucos. Alain de Botton, filósofo contemporâneo, reconhece que teve, quando jovem, esse sentimento de querer agradar compulsoriamente. Nossa sociedade de celebridades está doente dessa compulsão. Bem fez o cantor sertanejo Luciano, da dupla com Zezé di Camargo, em antológica entrevista à Folha de S.Paulo, anos atrás, ao afirmar que temia dar opinião sobre temas que não entendia. Como celebridade, não era prudente se posicionar sobre tudo apenas para agradar ao senso comum. Preencher o nada com o nada.
Prudência não é artigo procurado.

Está empilhado nas prateleiras da vida. Já o “bom-mocismo”, os factoides, as meias verdades e as mentiras sinceras são processadas intensamente. Como vivemos tempos de reação e não de reflexão, as belezas emprestadas são garantia de sucesso instantâneo. São mantras repetidos e de fácil digestão. O que é complexo e incômodo, como pensar, não é fácil. Pensar, para muitos, significa ter a sua própria — e muitas vezes insuportável — companhia. Mais fácil é se apropriar do que já foi testado pelo “não é possível que…” e lançar mão do “com certeza”.

Assim, a pessoa se poupa da circunstância desagradável de estar consigo mesma, com suas dúvidas e, sobretudo, com a própria ignorância. Agora, de forma pretensiosa, busco atacar as belezas emprestadas. Mas faço a ressalva de que o que escrevo não é regra de militância de vida para ninguém. Tampouco me arvoro como o detentor de “belezas próprias”. Pouco as tenho. Apenas destaco que o caminho do entendimento das coisas é mais intenso, dolorido e solitário do que faz crer a sabedoria pop das celebridades.

As celebridades se sentem compelidas a se posicionarem sobre o que não entendem