Temer deixa o Palácio do Jaburu com destino ao Palácio do Planalto - AFP
Temer deixa o Palácio do Jaburu com destino ao Palácio do Planalto – AFP

Há uma historinha que costumava repetir nos tempos de coluna diária, nas quais ralei por quatro décadas. Começa com uma notícia no jornal: “Um homem branco, de 38 anos, foi flagrado, num terreno baldio próximo à uma escola, abusando sexualmente de uma aluna de 12 anos. Com escoriações e em estado de choque, a menina, cujo vestido verde exibia marcas de sangue, foi levada para exames no IML e entregue à família. O criminoso aguardará decisão judicial preso na Delegacia do bairro”… Uma semana depois, o tarado move ação por calúnia contra o repórter, alegando que “o vestido era vermelho”.

Não pensem que esse tipo de reação é rara. Perguntem aos advogados. O processo começa, tramita, vai, volta, entre audiências, recursos, intimações e tudo mais, produzindo, enquanto dura, “uma divergência legal relativa ao que foi exposto”. Até que a Justiça se coce, no ritmo que conhecemos, o processo se arrasta indefinidamente, embolando fios e postergando resultados. O tempo, claro, joga a favor de quem tem culpa.

Essa ficção se aplica à realidade momentânea de Michel Temer. No discurso em que descartou renunciar, ele jogou todas as fichas no álibi do “vestido verde”. De fato, a qualidade da gravação da conversa que teve com Joesley Batista, no Palácio do Jaburu, tem vários pontos inaudíveis e não permite confirmar alguns trechos letais do diálogo inicialmente divulgado em “O Globo” pelo colunista Lauro Jardim.

Mas a aposta presidencial é suicida. Primeiro, porque não se sabe o quanto equipamentos sofisticados da Polícia Federal terão conseguido “limpar” o áudio, alcançando as frases comprometedoras. Ou seja: o material entregue à imprensa pode ser tecnicamente bem inferior ao que está poder do STF. Segundo, porque, havendo ou não essa coleção sonora de delitos nos intervalos ainda nebulosos, restam os outros, perfeitamente nítidos.

E estes, por si só, são suficientes para incinerar qualquer político, inclusive chefes de Estado. Por exemplo: por que Temer recebeu à noite, em casa, sozinho, um empresário alvo de oito processos por corrupção? Por que liberou-o de registrar o nome na portaria do Palácio? Por que não lhe deu voz de prisão quando ouviu-o confessar que estava pagando suborno a um procurador da Lava Jato e a dois juízes? Por que lhe recomendou procurar, para resolver problemas junto a órgãos públicos, um deputado de sua confiança que, na sequência, seria filmado recebendo malas de dinheiro?

A rigor, são irrelevantes os hiatos da gravação nos quais o presidente se entrincheirou. Ainda que não se confirme seu aval explícito à compra do silêncio de Eduardo Cunha pelo dono da JBS, o que está aí, claro e límpido, é barulho bastante para fulminá-lo.

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Legislativo
Rolo compressor

Antes da paralisação das votações das reformas da Previdência Social e trabalhista pelo Executivo, na semana passada, em função da crise política, levantamento em poder do Planalto apontava 225 votos certos para aprovação das novas regras para aposentadorias e pensões. Portanto, número ainda insuficiente para garantir a vitória. Daí o governo ter intensificado nos últimos dias reuniões com os indecisos, para os quais vem oferecendo R$ 20 milhões em emendas parlamentares. Resta saber se tal prática prosseguirá.

Aviação
Ainda sem efeito

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Divulgação

O governo brasileiro pediu ao Conselho da Organização da Aviação Civil (ICAO na sigla em inglês) para agir junto à Justiça dos EUA, no sentido de ser cumprida condenação contra Jan Paulo Paladino e Joseph Lepore, pilotos do Legacy que se chocou contra o Boeing da Gol em 2006, matando 154 pessoas. Dez anos depois, a sentença de três anos de prisão em regime aberto, dada aqui, segue ignorada pelos americanos. O órgão se reúne no mês que vem, no Canadá.

Planalto
Quase

No auge da crise política que abalou geral o seu governo, Michel Temer cogitou renunciar ao mandato, na quinta-feira 18. Ministros que lhe são muito próximos insistiram e conseguiram demovê-lo. Não foi fácil. Entre as muitas expressões que usou, Temer disse se sentir “açoitado” pelas gravações de suas conversas com o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, e da abertura de inquérito em seu nome, no STF. O Brasil está sangrando.

JBS
Faltou leitura

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Eliária Andrade / Agência o Globo

Com milhares de funcionários em 20 países, o Grupo JBS tem regras de compliance abrangentes, inclusive acerca do recebimento de convites e brindes. No item “franqueza” enaltece o valor de “ser sincero, verdadeiro e transparente nas relações e saber dizer não”. A carta pública divulgada na quinta-feira 18, em que Joesley Batista pede desculpas pelos erros relatados em delação premiada, aponta a necessidade do executivo e seu irmão, Wesley, pagarem pelos erros cometidos e seguir em frente – mas com respeito à ética.

Meio ambiente
Mais que Cubatão

Relatório do governo do Estado do Maranhão indicou que São Luis hoje está mais poluída que Cubatão. Na década de 80, a cidade paulista ficou mundialmente conhecida pelos altos índices de sujeira no ar. Em 2016, a emissão de poluentes na atmosfera em São Luis foi de 51,4 mil toneladas, enquanto que em Cubatão atingiu 12,5 mil. Em 10 anos, o município paulista reduziu suas emissões em 75%. Já São Luis aumentou em 64%, no mesmo período. As principais causas da poluição na capital maranhense foram as indústrias, com a elevação da produção de energia e minério de ferro.

Política
Teve claque

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Divulgação

A prisão de Andrea Neves motivou uma festa no Sindicato dos Jornalistas de MG, na quinta-feira 18. Formada em Comunicação Social, ela foi muitas vezes acusada de pressionar por demissões nas redações mineiras de críticos à gestão tucana no Estado. Antes da celebração, batizada de “Liberdade de Imprensa”, alguns jornalistas foram vaiar Andrea, na hora em que entrou na Penitenciária Estevão Pinto, em Nova Lima, acusada de fazer contato para pedir R$ 2 milhões a Joesley Batista, em nome do irmão Aécio.


Agricultura
Planta nobre

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Novamente vem do campo uma boa notícia. O primeiro algodão transgênico de fibra longa acaba de ser desenvolvido por pesquisadores da Embrapa e da Fundação Bahia. De alta resistência, mede até 32,5 mm contra os 30mm do tipo médio. A novidade será apresentada no Bahia Farm Show, a partir de terça-feira 30, em Luís Eduardo Magalhães, na região Oeste do estado.

Congresso
Conselho fantasma

Debite na conta de Eunício Oliveira o fato de o Conselho de Ética não ter sido formado, quatro meses depois da abertura do ano legislativo no Congresso. Senadores cobraram o funcionamento ao presidente na semana passada. Lembraram que, diante da queixa da Rede e do PSol, Aécio Neves pode responder a processo de cassação do seu mandato no órgão, por falta de decoro, ao suposto pedido de propina de R$ 2 milhões, relatado por Joesley Batista, do JBS.

TSE
Direta ou indireta

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Divulgação

Qual o desfecho da investigação contra Temer no STF? Impossível prever hoje o que aconteceria na hipótese de o presidente ser afastado do Planalto. A combustão ao debate sobre eleições diretas ou indiretas ao cargo está na recente decisão do TSE, ao cassar o mandato do governador do Amazonas, José Melo (Pros), por compra de votos. Ao invés do voto indireto previsto na Constituição, o tribunal determinou nova eleição.

 


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