No momento em que o Brasil luta para se reerguer de um traumático processo de impeachment, os movimentos sociais próximos ao PT apostam na velha estratégia do “quanto pior, melhor”. Líderes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Sem Terra (MST) e do Movimento dos Sem Teto (MTST) ameaçam não dar trégua ao novo governo. Sequer esperaram Michel Temer assumir definitivamente a presidência da República para levar o caos às ruas. Na semana passada, integrantes desses grupos entraram em confronto com a polícia e vandalizaram diversas capitais. É desejável, em uma sociedade democrática como a brasileira, que organizações de todas as matizes ideológicas possam se manifestar livremente, mas a violência não deve ser admitida em hipótese alguma. Não se pode aceitar que, em nome de um projeto de poder cassado de forma legítima, seus militantes reproduzam com atos descabidos a cólera dos discursos políticos, como o realizado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), que chegou ao absurdo de afirmar que a saída de Dilma Rousseff levaria a uma guerra civil e recomendou à população: “entrincheirem-se. O conflito será inevitável.” Para um País que precisa de pacificação, o barulho não poderia vir em hora tão inoportuna.

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Agora com o PT fora do poder, os chamados movimentos sociais ligados ao partido perderam uma milionária fonte de renda e apelam para o discurso do medo. O MST ameaça intensificar as invasões deixadas em segundo plano durante os governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. “Os movimentos do campo iniciarão, a partir dos próximos dias ou das próximas horas, ocupações de terras, de latifúndios”, afirmou Alexandre Conceição, um dos coordenadores nacionais da organização, após o discurso da ex-presidente no Senado na segunda-feira 29. Faz coro com o líder do MTST, Guilherme Boulos. O dirigente do Movimento dos Sem Tento cometeu o disparate de atacar a soberania do Congresso Nacional. “Não reconhecemos no Senado a legitimidade para decidir os destinos do País. A resistência seguirá nas ruas”, afirmou. Na manhã da terça-feira 30, seus liderados partiram para a ação. Paralisaram as principais vias da capital paulista com barricadas de pneus. Foram retirados pela Polícia Militar, que autuou quatro militantes pelos crimes de resistência e dano ao patrimônio público. O fundamentalismo equivocado também parece acometer a CUT. Fundada pelo ex-presidente Lula, a central segue o mesmo discurso. Promete não dar trégua a Temer, embora não tenha conseguido reunir mais de mil militantes para acompanharem a votação do impeachment, em Brasília. A CUT culpou a ausência de recursos do PT para pagar a viagem de seus militantes, em uma demonstração pública de falta de independência.

Nos últimos treze anos, os movimentos sociais ligados ao PT foram cooptados e caíram no ostracismo. Assistiram à ascensão de outros grupos mais à esquerda e livres para criticar os antigos governos e reivindicarem suas bandeiras históricas. No meio sindical, a CUT perdeu espaço. Durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma, a taxa de representatividade da central, índice que demonstra o número de sindicatos e trabalhadores sob a sua bandeira, caiu de 38,3% para 34,4%, segundo o Ministério do Trabalho.

Movimentos em crise

Agora, a radicalização se tornou uma estratégia equivocada de sobrevivência dos movimentos ligados ao PT. Eles tentam reverter a perda de espaço durante os anos do partido à frente do Palácio do Planalto. Foram tempos em que UNE, CUT, MST e MTST deixaram de lado seus discursos. Tornaram-se apêndices do projeto petista e irrigaram seus caixas com financiamento estatal. O Movimento dos Sem Terra, de João Pedro Stédile, abocanhou R$ 152 milhões no primeiro mandato petista. Uma espécie de compensação pelo fato de a reforma agrária ter deixado a lista de prioridades dos governos petistas. O MTST, de Guilherme Boulos, não ficou para trás. Em 2014, recebeu mais de R$ 80 milhões do programa “Minha Casa, Minha Vida.”

As benesses contemplaram ainda a renda de dirigentes estudantis e sindicais. O melhor exemplo é o do presidente da CUT, Vagner Freitas. Ele engordava seus ganhos com a participação em reuniões do conselho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Tinha a companhia de outros militantes que descobriram – e agora perdem – as regalias dos cargos de confiança.