O governo do Rio Grande do Sul tem se posicionado que o Banrisul não faz parte do conjunto de empresas que podem ser privatizadas no âmbito da negociação para recuperação fiscal das contas gaúchas com o Ministério da Fazenda, de acordo com o diretor financeiro e de relações com investidores do banco, Ricardo Richiniti Hingel. “Não cabe à administração do banco se posicionar sobre a venda ou não. Isso cabe ao controlador que tem se posicionado que o Banrisul não fará parte das negociações”, afirmou ele, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Não houve, conforme o executivo, nenhuma conversa do governo do RS com a administração do banco sobre possível privatização. Segundo ele, o assunto tem despertado questionamentos por parte dos investidores e foi positivo em termos de captação para a instituição. Além de ter elevado a captação via CDB no ano passado, as ações também têm reagido positivamente. No mês, sobem mais de 38% e no ano a alta está em torno dos 59%.

Hingel lembrou, conforme antecipou o Broadcast em novembro do ano passado, que as privatizações no Rio Grande do Sul têm de ser feitas via plebiscito. Uma alternativa, segundo ele, é uma proposta de emenda à constituição do Estado para tirar essa obrigatoriedade. Além disso, precisa ser aprovada em três quintos de assembleia na Câmara dos Deputados, em duas seções. “Não é maioria simples”, explica.

Pela cotação nesta tarde de quinta-feira, 9, de R$ 16,39, a fatia de cerca de 57% do governo do Rio Grande do Sul no Banrisul estaria avaliada em mais de R$ 3,8 bilhões. Além disso, poderia ser cobrado um prêmio pelo controle, o que é comum quando o controlador quer se desfazer da sua participação.

Torcida

Apesar de o processo para a privatização do Banrisul ser complexo, nos bastidores, porém, é crescente a percepção de executivos do setor sobre a necessidade de o governo do Rio Grande do Sul dar tal passo. Interessados não faltam. Uma fonte pondera, entretanto, a dificuldade de aprovação junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que já tem sido mais duro na análise de fusões e aquisições no setor bancário.

Esta semana, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou que acredita que um possível movimento nessa direção é difícil, mas se ocorrer e quando ocorrer o banco vai olhar. Antes dele, o vice-presidente do Bradesco, Alexandre Gluher, afirmou que, caso o processo de privatização do Banrisul evolua, o banco vai avaliar as condições do negócio para, então, acionar o Cade sobre sua eventual participação na disputa. Uma das condições acertadas com o órgão na compra do HSBC era de que o Bradesco ficaria impedido de fazer aquisições por 30 meses.

Há, porém, uma exceção no caso de envolver grupos que sejam de interesse do sistema financeiro, análise essa que será feita pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “O acordo com o Cade tem condições de exceção sobre eventual participação do Bradesco em alguns processos. Estamos avaliando o acordo ao mesmo tempo que temos de esperar eventual evolução do processo de privatização do Banrisul, se é que vai acontecer”, explicou ele, em teleconferência com analistas e investidores, na semana passada.

Já o presidente do Santander, Sérgio Rial, reforçou o interesse no ativo. Em recente conversa com a imprensa, disse que o banco tem obrigação de olhar o Banrisul caso a instituição venha a ser vendida. Ele não disse, porém, se acredita que o banco estatal será ofertado ao mercado como parte da solução da ajuda financeira ao Estado. “Nós iremos olhar. Temos obrigação, mas depende se a questão do convencimento sobre a venda é função do governo”, afirmou ele, na ocasião.