Cento e vinte dias após traficantes invadirem o Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio, e resgatarem um comparsa internado sob custódia, em ação que causou a morte de um paciente, um grupo de criminosos armados invadiu na tarde desta terça-feira, 18, uma maternidade em Madureira (zona norte) para exigir que algum médico saísse da unidade de saúde para atender uma pessoa ferida a bala – provavelmente, outro criminoso que seria preso se buscasse atendimento em algum hospital. A informação foi divulgada pelo Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.

“De acordo com os médicos da maternidade, traficantes armados desceram do morro São José Operário solicitando que um médico fosse à comunidade para atender uma pessoa possivelmente baleada”, informou nota do sindicato. Segundo a entidade, houve pânico no hospital, mas os criminosos acabaram desistindo ao serem informados que, por ser uma maternidade, não havia naquele local médicos especializados em atender pessoas baleadas. O grupo foi embora e ninguém se feriu. O caso não foi registrado na Polícia Civil, segundo o sindicato, por decisão da direção da maternidade.

A Secretaria Municipal de Saúde nega essa versão. Segundo a pasta, “no final da tarde de segunda-feira, 17, dois homens em uma moto se aproximaram do vigilante na entrada do prédio e disseram que queriam um médico para acompanhá-los, segundo eles, para ‘fazer um curativo em uma pessoa’ na vizinhança. Diante da resposta do vigilante de que os médicos estavam em atendimento, eles se retiraram”.

“Embora não tenha havido violência nessa aproximação, tentativa de coação ou exibição de armas, por precaução e para tranquilidade dos profissionais e pacientes, a direção do hospital solicitou ao batalhão de Polícia Militar da área a presença de uma patrulha próxima à unidade”, continua a nota da secretaria.

O presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, afirma que a falta de segurança coloca em risco os profissionais que trabalhavam nos hospitais. “Esse é um filme que se repete todo dia nas unidades de saúde”, afirma. O sindicato informou o Ministério Público Estadual e a Polícia Militar a respeito do episódio e solicitou o reforço do policiamento na região da Maternidade Herculano Pinheiro, em Madureira.

A Polícia Militar tem realizado operações frequentes no morro São José Operário, que fica perto da maternidade, para combater roubos, tráfico e outros crimes. Nesta terça, 18, houve uma operação que resultou em tiroteios entre criminosos e policiais. Até o início da noite não havia registro de feridos nem de presos.

Outra área que fica relativamente perto da maternidade é o morro da Barão, na Praça Seca (zona oeste), onde, em maio, uma menina de 16 anos foi vítima de um estupro coletivo. O abuso foi filmado e divulgado pelas redes sociais, gerando repercussão nacional. Sete pessoas foram indiciadas pelo crime.