O Ministério da Saúde permaneceu anestesiado nas sucessivas gestões petitas à frente do governo federal, funcionando sobretudo como anzol para o aparelhamento partidário. Volta agora a dar sinais de vida, no governo de Michel Temer, com o anúncio de estratégias de combate ao crescimento dos índices de infecção pela bactéria Treponema pallidum — ela é a causadora da sífilis, doença sexualmente transmissível, que está colocando em risco não apenas a atual geração de brasileiros mas, também, as gerações futuras. Fechou-se recentemente a compilação de dados referentes aos anos de 2010 a 2015 e a conta é estarrecedora: a taxa de bebês com sífilis congênita aumentou 170%; a sífilis em mulheres grávidas subiu 202%; e na população adulta em geral registram-se 42,7 casos para cada cem mil habitantes (13 vezes mais do que é tolerável pela OMS).

O primeiro e vital passo do governo foi a admissão pública, por parte do Ministério da Saúde, de que há mesmo “uma epidemia de sífilis no Brasil”. Entre as principais medidas tomadas, três chegam à área da saúde pública com uma eternidade de atraso. A primeira refere-se ao exame pré-natal para diagnóstico precoce: deverá ser feito no primeiro trimestre de gestação e não mais no último. O segundo ponto implica olhar a sífilis como parte de uma constelação de DSTs. Como o preservativo é ainda o mais eficaz método de prevenção, se a contaminação pelo Treponema anda aumentando é porque o uso de camisinha anda diminuindo. Em decorrência, isso explica a maior incidência também de outras infecções: clamídia e HIV, por exemplo.

Finalmente, o governo teve o bom senso de acenar à indústria farmacêutica com a majoração do preço da penicilina benzatina (a mais eficaz no tratamento da sífilis) para que os laboratórios voltem a produzi-la: a dose passa de R$ 6 para R$ 9 na rede de hospitais particulares e segue gratuita no SUS. Isso é de vital importância para solucionar a crise de desabastecimento causada pelo desleixo das gestões petistas. Tal acréscimo não pesa no bolso de quem pode pagá-la, e a população carente terá o remédio na rede pública – o que não pode é não tê-lo. A sífilis na gestação acarreta morte do feto, aborto ou nascimento de bebês com déficit cognitivo. Em adultos, se não for tratada em suas etapas primária e secundária, ela evolui à fase terciária (neurosífilis) e pode levar à demência.

O Ministério da Saúde tem a coragem de admitir que há “uma epidemia de sífilis no Brasil”
e o bom senso de reabastecer com penicilina os hospitais privados e o SUS