19/06/2017 - 18:44
Os Estados Unidos abateram no domingo um avião no leste da Síria, o que provocou o temor de um confronto militar direto com o governo de Damasco, o que Washington sempre quis evitar até o presente momento.
Washington está em guerra com Damasco?
Não, os Estados Unidos não estão em guerra com o governo sírio, mas somente contra os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).
No entanto, as forças americanas no terreno estão autorizadas a se defender de qualquer ataque do governo sírio e a defender as forças locais sírias que apoiam. Isso foi o que ocorreu quando o avião sírio foi abatido.
E é também o que aconteceu em pelo menos três ocasiões desde o início de maio na região de Al-Tanaf, próximo à fronteira com o Iraque e a Jordânia, quando as forças americanas bombardearam as forças do governo.
“Provavelmente não será a última vez que as forças americanas atacam as forças do governo, especialmente para proteger as forças americanas e os aliados no terreno”, indicou nesta segunda-feira Luke Coffey, analista militar da fundação Heritage.
Trump é mais agressivo com o governo?
A administração Trump fez o que a administração Obama sempre se negou a fazer: atacar o governo sírio como resposta por ter usado armas químicas. Em 7 de abril foram disparados mísseis Tomahawk contra a base aérea síria da qual partiu o ataque químico.
O governo de Trump também delegou aos militares as decisões operacionais, dando-lhes uma maior autonomia na guerra contra o EI. Entretanto, não modificou a orientação global da administração Obama: focar na derrota do EI e libertar a cidade de Raqa, capital autoproclamada dos extremistas, apoiando-se nos combates em terra das Forças Democráticas Sírias, uma coalizão curdo-árabe.
“Não buscamos a guerra com a Síria”, destacou nesta segunda-feira o porta-voz do Pentágono, Jeff Davis.
Por que este aumento da tensão?
Há alguns meses, as forças do governo de Bashar al-Assad estavam inteiramente dedicadas a combater os rebeldes no oeste da Síria. A derrota dos rebeldes em Aleppo e em outros de seus redutos permite que as forças militares do governo prossigam para o leste da Síria e entrem em contato com as Forças Democráticas Sírias e em zonas onde os Estados Unidos e a coalizão internacional estão ativos.
Muitos analistas percebem a mãos do Irã por trás deste “empurrão” para o leste da Síria e para a fronteira iraquiana. O Irã estaria tentando, por meio de seus aliados, chegar ao Mediterrâneo via Iraque e Síria.
As forças sírias representam uma ameaça para a coalizão e seus aliados?
Os confrontos esporádicos entre as forças aliadas ao governo de Bashar al-Assad e as da coalizão e seus sócios parecem uma série de testes de Damasco sobre a determinação de Washington e da coalizão de defender os territórios libertados do EI.
Por falta de regulação política do conflito sírio, uma questão crucial segue sem resposta: quem irá controlar no futuro os territórios libertados dos extremistas pela coalizão e por seus aliados locais?
Qual é a atitude da Rússia?
Até agora os militares americanos comemoraram as suas relações com os militares russos pelo funcionamento da linha telefônica de troca de informação e da delimitação das “zonas de distensão” consideradas sensíveis para ambas as partes.
Mas a Rússia anunciou nesta segunda-feira a suspensão deste canal de comunicação.
Informou também que os poderosos meios de defesa antiaérea a sua disposição na Síria apontaram os seus mísseis para os aviões da coalizão que circulam a oeste do Eufrates, prontos para agir contra eles.
“Vamos trabalhar nas próximas horas sobre o plano diplomático e militar para restaurar” as comunicações militares com a Rússia e evitar qualquer incidente, respondeu o chefe do Estado-Maior Conjunto americano, Joe Dunford.
Quantos soldados americanos há na Síria?
O governo de Trump não quer anunciar a quantidade de soldados americanos na Síria, mas a cifra provavelmente se aproxima de milhares.
A administração autorizou a presença permanente de cerca de 500 soldados das forças especiais para assessorar as Forças Democráticas Sírias e outros grupos sírios que lutam contra o EI.
Mas centenas de soldados extras são enviados para estadias temporárias, em particular para o apoio da artilharia das Forças Democráticas Sírias próximo a Raqa.