Eu não gosto de Donald Trump, acho a direita extremista uma droga, abomino a homofobia, a pena de morte, a redução da maioridade penal e a repressão de qualquer tipo, inclusive da polícia que bate em estudantes. Defendo os direitos humanos, a agenda feminista, a descriminalização das drogas e a diversidade de ideias, até aquelas que são diferentes das minhas.

E aí, vai me xingar?

Os haters, aquela turma que dissemina o ódio, dominaram o mundo. Basta contrariá-los para ser alvo de uma fúria cega, sem sentido. Apanhei na internet quando escrevi uma reportagem que questionava Trump. Li insultos aos jornalistas da ISTOÉ depois que publicamos um texto que criticava a concentração de renda. Vi comentários racistas em redes sociais. Descobri que os haters amam a violência mais do que qualquer outra coisa.

Não é preciso muito esforço para entender por que chegamos a tal ponto. A violência faz parte da história humana. Destruir o outro em vez de aceitá-lo é o nosso negócio. Antes da internet, esse lado obscuro andava reprimido. Com ela, ganhou voz.

O grande Umberto Eco definiu a questão em um comentário que se tornou famoso. Nunca é demais recorrer a ele: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

Serviu a carapuça? Se você é um desses haters, por que não fica quieto em vez de escrever bobagens na internet? Por que não tenta construir algo de positivo antes de detonar quem pensa diferente? Por que não analisa todos os ângulos da questão no lugar do pensamento único, pobre, maniqueísta?

A violência faz parte da história humana. Destruir o outro em vez de aceitá-lo é o nosso negócio

Prefiro rock a música gospel, mas não preciso odiar quem troca Bob Dylan por Davi Sacer, nem me sentir superior por uma bobagem dessas. Aposto que há gente boa e gente péssima dos dois lados. Prefiro cinema a teatro. O inverno ao verão. J. D. Salinger a Paulo Coelho. Raymond Carver a Rubem Braga.

E daí? Você não tem que me esculhambar nas redes sociais por achar minhas preferências uma porcaria.

Se for para falar barbaridades, é melhor calar a boca.