Enquanto o presidente Michel Temer faz as vezes de equilibrista, caminhando de uma ponta a outra da linha tênue que o separa do abismo, os partidos da base aproveitam para exercitar o que sabem fazer de melhor: pressão por mais e mais poder. A indefinição do PSDB sobre permanecer ou não no governo fez abrir o apetite de outras legendas aliadas ao PMDB, que pressionam o Palácio do Planalto para realizar uma nova reforma ministerial, redistribuindo os nacos de poder que hoje alimentam os tucanos.

A pasta mais cobiçada entre partidos como PSD, PP, PR, PTB, e o próprio PMDB, é a das Cidades, ocupado hoje por Bruno Araújo, um político com tendências, por assim dizer, separatistas. Em maio deste ano, quando vieram à tona as denúncias do empresário Joesley Batista, da J&F, contra o presidente, o ministro chegou a colocar o cargo à disposição, mas foi demovido da decisão por seus correligionários, que queriam manter a sigla trabalhando no Executivo.

O PSD, que conta hoje com uma bancada de 37 deputados na Câmara, sonha em ver o presidente do partido, Gilberto Kassab, de volta à cadeira de ministro das Cidades, administrando um orçamento de R$ 20 bilhões só neste ano. Embora ele jure estar muito feliz onde se encontra, ou seja, pilotando o Ministério da Ciência e Tecnologia, a capilaridade e o poder de realização da pasta atiçam a sede de qualquer político.

O PSDB ocupa também a Secretaria de Governo, comandada por Antonio Imbassahy, e o das Relações Exteriores, por Aloysio Nunes, e um eventual desembarque agora abriria mais dois ministérios para serem redistribuídos entre a base fiel. Mas os dois tucanos articulam internamente para que a legenda não abandone o governo tão cedo.

De acordo com interlocutores de Temer, o desembarque tucano já está precificado pelo governo. Ninguém mais queima as pestanas para saber “se o PSDB vai deixar o governo”, e sim “quando o PSDB vai deixá-lo” porque é evidente que no ano que vem isso acontecerá naturalmente, já que a sigla lançará candidato à Presidência.

DANÇA DAS CADEIRAS Se Bruno Araújo (foto) sair das Cidades, Kassab quer seu lugar, desocupando o Ministério da Ciência e Tecnologia

No muro

Por isso, por mais que os tucanos fiquem em cima do muro, deem declarações controversas sobre a gestão presidencial ou possam eventualmente votar contra os interesses do Executivo, Temer não fará nenhum movimento para precipitar a saída.

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Adotar retaliações, como a de não liberar emendas, ou despejar os tucanos dos ministérios que ocupam não estão no horizonte, por ora. A ideia de Temer, diante da inevitabilidade do desembarque, é prolongar ao máximo a permanência desta que é uma das maiores bancadas do Legislativo. Quer, com isso, manter a grife PSDB em seu governo, ainda dona de prestígio no País. “Quem apostar numa briga de Temer contra os tucanos vai perder”, assegurou uma das fontes ouvidas pela ISTOÉ esta semana.

Atualmente, o único ministério “ocupável” é o da Transparência, que está sob a gestão de um interino. Mas não desperta o interesse dos partidos por duas razões: o orçamento é mínimo e também porque entre suas atribuições está fiscalizar prefeitos Brasil afora – atividade que gera problemas e nenhum ganho eleitoral para quem assume esta tarefa.

A Cultura, sem ministro desde maio, com a saída de Roberto Freire (PPS), foi preenchida nesta semana. Pesou a influência de Rodrigo Maia e a necessidade de aparar arestas com o presidente da Câmara. Temer escolheu para o posto o jornalista Sérgio Sá Leitão, do Rio de Janeiro. Além da escolha ter passado pelo crivo de Maia, Temer também optou por escolher alguém bem entrosado com a classe artística. Sá Leitão tem bagagem. Foi diretor da Ancine, secretário de Cultura do Rio e chefe de gabinete da pasta quando Gilberto Gil foi ministro, na gestão de Lula.

“Quem apostar numa briga de Temer contra os tucanos vai perder”, diz um auxiliar do presidente

Além de administrar o apetite dos partidos da base por mais cargos, Temer também se concentra em atender aos pedidos de liberação de emendas parlamentares. O governo já torrou parte de seus cartuchos para agradar aos 40 integrantes da CCJ que votaram relatório contrário à aceitação da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra si: ao menos 39 deles foram contemplados com o empenho de R$ 266 milhões somente de junho para cá.

Até o mês de agosto, quando a decisão deve ir a plenário, o presidente pretende distribuir ainda mais agrados. É fundamental sublinhar que dinheiro de emenda parlamentar não vai (ou não deveria ir) para o bolso do legislador. Trata-se de recurso para que o deputado possa investir em seu estado, especialmente nos municípios que ajudaram a elegê-lo.

É uma maneira democrática de manter a fidelidade de seus aliados e alcançar a maioria. Faz parte do jogo político e permeou todos os governos, desde a redemocratização. Abomináveis são os mensalões, destinados a comprar com dinheiro público as consciências das vossas excelências, não o empenho de recursos para a realização de obras pelo País.

Temer mexe as peças

Para manter a base aliada fiel, Temer pode movimentar o tabuleiro ministerial

• O Ministério das Cidades, ocupado por Bruno Araújo (PSDB), pode parar nas mãos de Gilberto Kassab (PSD)
• Com isso, fica vago o Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações, atualmente ocupado por Kassab
• Os ministérios das Relações Exteriores e Secretaria de Governo, ocupados pelo PSDB, estão sendo cobiçados por partidos como PSD, PP, PR, PTB e até PMDB, caso os tucanos resolvam desembarcar do governo
• O Ministério da Transparência está vago, mas ainda não há interessados
• Além das mudanças no ministério, Temer trabalha para aumentar a bancada do PMDB. Quer evitar que o DEM, de Rodrigo Maia, consiga a adesão de dez deputados do PSB que desejam deixar o partido e voltar à base do governo. Temer quer que esses deputados migrem para o PMDB, enfraquecendo Maia

 



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