Falta? Simulação? Pênalti? Cartão vermelho? É preciso recorrer ao vídeo? Em Coverciano, Centro de Treinamento da seleção italiana, 60 dos melhores árbitros do mundo trabalham com a vídeo-arbitragem, que será usada a partir deste sábado no Mundial sub-20 da Coreia do Sul.

Nas instalações da Federação Italiano de Futebol (FIGC), os melhores árbitros do mundo se reuniram em final de abril para seguir se familiarizando com o sistema de vídeo que promete solucionar os polêmicos e tão corriqueiros erros de arbitragem.

“Fazemos um dia no campo e outro na tenda -à beira do campo de jogo-. Também fazemos testes atléticos e teóricos. Estamos investindo a fundo nisso e posso garantir que não tivemos tempo de visitar Florença”, explicou à AFP o árbitro francês Clément Turpin, presente durante as sessões de aprendizagem no CT da Itália, na Toscana, e que também irá à Coreia do Sul como “assistente de vídeo”.

Nos últimos meses, a Fifa acelerou consideravelmente o ritmo dos testes do Assistente de Vídeo para Arbitragem (VAR na sigla em inglês), que como garante o presidente da entidade, Gianni Infantino, será utilizado na Copa do Mundo da Rússia, em 2018.

Para Pierluigi Collina, presidente da comissão de árbitros da Fifa, e Massimo Busacca, chefe do departamento de arbitragem, é precisar formar os árbitros para que estejam prontos, não só a nível tecnológico, para usar o novo sistema.

“Quanto melhores forem os árbitros e melhor preparados, mais poderão dizer ‘obrigado tecnologia, mas não preciso de você'”, afirmou Bussaca.

Já Collina lembra que “o objetivo é manter o ritmo e fluidez” do jogo. “Mínimas interferências, resultados máximos”, promete o ex-árbitro italiano.

– “Como um iPad” –

Melhorar a comunicação entre o árbitro principal e o VAR era o grande objetivo deste seminário organizado em Coverciano: saber quando interromper o jogo e quando deixar seguir uma jogada para perder o menos tempo possível.

“Você mexe a câmera, faz um zoom com os dedos, é como um iPad”, explica um dos técnicos a um dos árbitros encarregados de supervisionar uma ação conflitiva numa das telas de controle.

Dito assim parece fácil, mas na prática não é. No momento de analisar um lance, o russo Serguei Karasev se confunde de tela e assiste à transmissão ao vivo, ao invés de prestar atenção no monitor que transmite o replay.

Para Turpin, o mais importante é a comunicação com os técnicos encarregados do equipamento. “São eles os especialistas, que conhecem os ângulos, as câmeras. Prefiro tocar o menos possível para não perder tempo”.

Mais ou menos rápidos na tomada de decisões, mais ou menos cômodos com o uso da tecnologia, os árbitros desfilam sob a tenda, enquanto no campo de jogo Bussaca e jogadores das categorias de base da Fiorentina tratam de dificultar a vida dos árbitros principais com ações ‘no limite’: saída do goleiro nos pés do atacante, carrinhos dentro da área, bola não mão de maneira involuntária ou deliberada.

“Correto, correto. Sim, decisão correta, não aconteceu nada”; “Pênalti, amarelo para o goleiro”. “Já comprovamos. Espera! Espera!”. A comunicação na hora do uso do VAR precisa ser breve e clara. Ainda não é o caso.

– Um amigo –

Busacca se aproxima da tenda. “Hey! Quanto tempo precisam para marcar um pênalti? Uma hora? Assim não rapazes, quero vocês mais concentrados”.

O árbitro principal também se vê pressionado. “É pênalti ou não? Você que decide, não eu. Vermelho? Isso não é cartão vermelho não, nunca”, analisa Busacca, convertido numa espécie de professor que distribui comentários entre os alunos.

“Bem visto, Sato (para o árbitro japonês Ryuji Sato), excelente. Pênalti, claro. Nem precisa da tecnologia. É a opinião certa. Se você é bom não precisa do VAR”.

Publicamente, a tecnologia causa unanimidade de opiniões e todos os árbitros a elogiam. “Para nós é uma grande amigo. Não estamos mais sozinho em campo”, garante o holandês Bjorn Kuipers.

No fim, quando há discussão, a tecnologia sempre tem razão. É o que acontece quando um dos jovens jogadores da Fiorentina reclama de pênalti por mão na bola. “Três árbitros dizem que não, amigo. Um aqui e dois na tenda. Então não foi mão”, responde Bussaca.