A Arábia Saudita, que chamou de “punhalada pelas costas” a votação hostil do Congresso americano sobre os atentados do 11 de Setembro, poderá reagir reduzindo sua cooperação com Washington.

O Congresso americano eliminou, nesta quarta-feira (28), o veto do presidente Barack Obama a uma lei que permite que as vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001 processem a Arábia Saudita.

Quase por unanimidade (97 votos contra um), o Senado se pronunciou pela eliminação do veto. Pouco depois, seguindo os passos da Câmara alta, por 348 votos a 77, os representantes também eliminaram o veto presidencial.

É a primeira vez em que isso ocorre com um veto de Obama em seus oito anos como presidente.

“Temo que esta lei tenha consequências estratégicas catastróficas nas relações históricas entre Washington e Riad”, adverte Salman al Ansari, presidente de um comitê privado para a promoção das relações entre Arábia Saudita e Estados Unidos (SAPRAC).

A relação Washington-Riad, iniciada há mais de 70 anos, se baseia em particular no intercâmbio da segurança americana por petróleo saudita.

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“A Arábia recebeu uma punhalada pelas costas com esta lei irracional irrealista”, assinalou Ansari à AFP. “Como se pode perseguir um país que colabora na luta contra o terrorismo, do qual é acusado sem fundamento?”, questionou.

A excepcional demonstração de unidade bipartidária do Congresso americano implica um duro golpe para Obama, que lançou uma forte campanha contra a proposta, conhecida como Lei de Justiça contra os Patrocinadores do Terrorismo (Jasta, na sigla em inglês).

Adotada nos últimos meses de Obama na Casa Branca, a medida mostra um presidente enfraquecido.

Ao longo de sua Presidência, Obama emitiu 12 vetos. Nenhum deles havia sido questionado até agora – um fato curioso, considerando-se a maioria republicana, de longa data, no Congresso dos EUA.

A Casa Branca argumenta que a iniciativa mina o princípio de imunidade soberana e abre caminho para que os Estados Unidos sejam alvo de processos.

Obama advertiu os congressistas sobre as consequências “devastadoras” dessa decisão para o Pentágono, funcionários do governo, diplomatas e serviços de Inteligência.

De acordo com o presidente, a legislação “não protegeria os americanos de ataques terroristas, nem melhoraria a eficácia de nossas respostas a esses ataques”.

Familiares de vítimas dos ataques de 2001 fizeram uma forte campanha a favor da lei, convencidos de que o governo saudita tem responsabilidade nos ataques que provocaram a morte de quase 3.000 pessoas.

Dos 19 sequestradores dos aviões usados nos atentados na fatídica data, 15 eram cidadãos sauditas. Até hoje, porém, não se determinou uma conexão com o governo de Riad. O reino nega, por sua vez, qualquer relação com os sequestradores.

Documentos confidenciais tornados públicos recentemente mostram que, em algum momento das investigações, os serviços de Inteligência americanos suspeitaram de uma eventual relação entre os agressores e as autoridades sauditas.

As relações Washington-Riad já haviam esfriado em 2014-2015 quando Obama iniciou uma abertura em relação a Teerã, que foi concretizada com um acordo nuclear.


As monarquias do Golfo Pérsico não reagiram ainda oficialmente à medida americana, exceto o reino de Bahrein, muito ligado a Riad, que avaliou que o Congresso dos Estados Unidos “lançou uma flecha contra seu próprio país”.


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