Um aquecimento global acima de 1,5 grau Celsius seria capaz de alterar os ecossistemas da região mediterrânea de uma maneira sem precedentes nos últimos 10.000 anos – o tempo de existência da civilização humana -, remodelando florestas e transformando partes da Europa em deserto, alertaram pesquisadores nesta quinta-feira.

Dado que o Mediterrâneo é um ponto essencial para a biodiversidade mundial, com ao menos 1.500 espécies endêmicas, e que proporciona alimentos, água potável, proteção contra inundações e, inclusive, armazenamento de dióxido de carbono (CO2), um novo aumento de mercúrio teria efeitos drásticos, advertem os especialistas.

E a região está aquecendo rapidamente: suas temperaturas já estão 1,3 grau Celsius acima da média do período de 1880 a 1920, segundo o estudo publicado na revista científica americana Science.

O resto do mundo está cerca de 0,85º C mais quente do que na era pré-industrial, o período que os cientistas usam para comparação porque ocorreu antes da queima generalizada de combustíveis fósseis levar a um aumento de gases do efeito estufa na atmosfera terrestre.

Sob o Acordo de Paris, assinado em dezembro passado, líderes mundiais concordaram sobre a necessidade de limitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2º C em relação aos níveis pré-industriais e, se possível, abaixo de 1,5º C.

“A diferença entre 1,5 e 2 graus (…) faria com que passássemos de uma situação um pouco mais normal na escala dos últimos 10.000 anos a uma situação extrema”, explicou Joel Guiot, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França, na Universidade de Aix-Marsella, e um dos principais autores do estudo.

Os pesquisadores simularam diferentes cenários futuros em função do aumento da temperatura, analisaram o impacto na vegetação e o compararam com as mudanças climáticas dos últimos 100 séculos.

Eles projetaram vastas mudanças na paisagem até o final do século sob um cenário em que o uso de combustíveis fósseis e o aquecimento associado se mantém constantes.

“Todo o sul da Espanha se transformaria em deserto”, e o sudeste da França teria o mesmo clima que Puglia, no sul da Itália, segundo o estudo liderado por Wolfgang Cramer e Joel Guiot, da Universidade Aix-Marseille.

Além disso, o impacto do aumento das temperaturas e da redução de precipitações sobre a vegetação será evidente, com um declínio das florestas, que serão substituídas por vegetação de arbustos, e um aumento da erosão dos solos.

“Apenas sob o cenário em que o aquecimento global é limitado a 1,5º C acima das temperaturas pré-industriais faria com que as mudanças nos ecossistemas fiquem dentro dos limites experimentados durante os últimos 10.000 anos”, disseram os autores.

Mas, mesmo assim, a situação poderia ser muito pior do que o previsto, porque a análise atual não leva em conta outros impactos humanos sobre os ecossistemas, como a urbanização, a degradação do solo e as mudanças no uso da terra.