Os filmes Mãe só há uma e Boi Neon não vão participar da seleção que define o indicado do Brasil ao Oscar de 2017. Os diretores, respectivamente, Anna Muylaert e Gabriel Mascaro, saíram em defesa do colega Kleber Mendonça Filho, diretor de Aquarius, ao optar por não inscrever seus longas. Eles acreditam que Mendonça Filho saiu prejudicado da decisão da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura de convocar o crítico Marcos Petrucelli para integrar o júri que escolhe o candidato brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Em seu perfil no Facebook, Petrucelli faz desde maio reiteradas críticas pessoais a Mendonça Filho, e também ao protesto feito pela equipe dele contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, no último Festival de Cannes.

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“A gente não vai participar porque acha que o ano é do Aquarius, então não tem por quê. É o mais cotado, pelo seu histórico em Cannes. Creio que Kleber esteja sofrendo perseguições sutis. Colocam na comissão alguém que o odeia e diz isso em público, então é algo aparentemente tendencioso. E agora vem essa indicação de 18 anos. São pequenas retaliações”, disse Anna à reportagem na tarde desta quarta-feira, 24, referindo-se à decisão do Ministério da Justiça de classificar Aquarius para maiores, por conta de cenas “sexo explícito e drogas”.

Diretor de Boi Neon, Mascaro divulgou uma nota em que questiona a capacidade da comissão de fazer um julgamento imparcial: “É lamentável que o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, endosse na comissão de seleção um membro que se comportou de forma irresponsável e pouco profissional ao fazer declarações, sem apresentação de provas, contra a equipe do filme ‘Aquarius’, após o seu protesto no tapete vermelho de Cannes. Aquarius foi o único filme latino-americano na competição oficial de Cannes, tendo sido aclamado pela crítica internacional. Diante da gravidade da situação e contrários à criação de precedentes desta ordem, registramos nosso desconforto em participar de um processo seletivo de imparcialidade questionável”.

Estrelado por Sônia Braga, Aquarius, que estreia dia 1º de setembro, concorreu à Palma de Ouro em Cannes em maio. Na première, ao posar para fotos no tapete vermelho, a equipe mostrou cartazes com inscrições como “Um golpe de estado ocorreu no Brasil”, “O Brasil não é mais uma democracia”. O diretor Mendonça Filho não foi localizado pela reportagem para comentar o assunto. Na terça-feira, ele declarou considerar que a classificação indicativa foi uma equívoco. “Eu não quero confabular teorias de que é uma decisão política”, afirmou, cauteloso.

Desde o protesto em Cannes, Petrucelli vem escrevendo no Facebook comentários depreciativos sobre a questão. “Vergonha é o mínimo que se pode dizer sobre a equipe e o elenco de Aquarius”, ele opinou na data do protesto. Cinco dias depois, postou: “Então foi assim: filme feito com dinheiro público vai a Cannes representar o Brasil e não leva prêmio algum. Ou seja, a mentira sobre o suposto golpe no País por meio de frases em papel A4 no tapete vermelho não adiantou muito além de expor o Brasil ao ridículo.”

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No último dia 3, ao anunciar a comissão, que tem nove membros e é trocada anualmente, o secretário do Audiovisual, Alfredo Bertini, disse que “a composição (do grupo) buscou contemplar as diversas etapas da cadeia produtiva do audiovisual e ter diversidade regional, com nomes com currículo robusto de diversas partes do Brasil”.


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