Próximo aos jogadores, sempre à escuta e engraçado: a personalidade calorosa de Carlo Ancelotti seduz o Bayern de Munique, desorientado nas três últimas temporadas por Pep Guardiola, um “gênio” mais focado em tática do que em relações humanas.

É verdade que o início da era Ancelotti, cinco vezes campeão da Liga dos Campeões, é de entusiasmar. São treze gols marcados em três jogos oficiais, nenhum gol sofrido e o título da Supercopa da Alemanha.

Mas é principalmente a atitude do italiano, seu esforço -cheio de humor- para falar alemão e seu contato com os jogadores que vêm se destacando neste início de temporada.

Na última sexta-feira, o capitão do Bayern, Philipp Lahm, anotou o quarto gol da equipe na goleada sobre o Werder Bremen (6-0). Após a partida, Ancelotti comemorou: “Prometi a Philipp Lahm uma garrafa de Champagne depois desse gol incrível!”.

Lahm respondeu: “Aguardo o presente no meu armário”.

Não precisava de muito mais para que a troca de mensagens se tornasse um símbolo da nova relação entre técnico e jogadores no Bayern: “Pep não andava a álcool, Carlo vai de Champagne”, intitulou o jornal de Munique Süddeutsche Zeitung.

O atacante Thomas Müller já falava sobre isso há alguns dias: “Ancelotti é mais próximos aos jogadores. Pep parecia sempre estar em seu próprio mundo, porque refletia o dia inteiro sobre ‘como posso reposicionar meus jogadores em dois ou três metros, nessa ou naquela situação de jogo, para encontrar a fórmula perfeita?’. Uma loucura positiva”.

Em outras palavras, Guardiola, que assumiu o Manchester City na pré-temporada, parecia aos olhos de seus comandados um campeão de xadrez obcecado pelas posições das peças no tabuleiros, pouco preocupado com seus estados de espírito.

– ‘As correntes de Guardiola’ –

Ancoletti dá a impressão contrária, com seu jeito ‘paizão’ com quem sempre se pode conversar. “Sim, podemos”, confirma Müller, “mas não viemos treinar no Bayern para contar nossa vida ao treinador”.

Ancelotti, em seu livro (Liderança silenciosa: conquistando corações, mentes e jogos), insiste sobre o aspecto humano de seu trabalho. “Os jogadores são a chave”, garante.

“Carlo Ancelotti é um presente para o clube”, declarou o francês Franck Ribery. “É realmente um bom técnico, uma grande personalidade, uma boa pessoa. Ele nos traz o que faltou aos jogadores no passado. Desde que chegou, me sinto mais confiante”.

Antes de Ribery, outras estrelas mundiais não pouparam elogios a Ancelotti. Zlatan Ibrahimovic, que conheceu o técnico italiano no Paris Saint-Germain, afirmou que “não é só um técnico, é um amigo, ele é incrível”. Cristiano Ronaldo, pupilo no Real Madrid, afirmou que gostaria que “todo jogador deveria poder trabalhar com Ancelotti, porque é um cara fantástico, um técnico fantástico”.

Essa leveza em relação aos relacionamentos também pode ser encontrada na maneira com que o italiano comanda o jogo e o elenco. “É verdade, temos liberdade no campo e fora dele”, comemorou o zagueiro Mats Hummels.

Fim da obsessão pela posse de bola e da pressão no campo do adversário, marcas da equipe de Guardiola nas temporadas passadas. O novo Bayern recua em campo quando necessário para apostar em sua velocidade de contra-ataque.

“Nós deixamos primeiramente o adversário jogar, só depois atacamos a bola para ter mais espaço lá na frente”, explicou o goleiro Manuel Neuer.

“Na verdade, mudei pouca coisa nessa equipe”, comentou Ancelotti, modesto, após a goleada por 6 a 0 sobre o Werder Bremen. “É uma equipe formidável. Só tentamos jogar de maneira um pouco mais incisiva”.

Pouca coisa? Só o essencial? Para Mehmet Scholl, campeão da Liga dos Campeões em 2001 com o Bayern, “os jogadores estão felizes em campo, Ancelotti os libertou. Eles se livraram das correntes de Guardiola”.

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