Moro nos Estados Unidos há dois anos. É sempre muito interessante comparar as coisas entre os dois países. Meus 38 anos de experiência no Brasil me deixaram preparado para identificar sintomas de uma nação estranha, diferente, o que chamam de “primeiro mundo” por aí, num típico caso de arrogância desses malditos WASP. Eis a grande distinção entre nós e eles: esses americanos otários prezam mais as regras impessoais do capitalismo, a meritocracia, o trabalho individual, enquanto nós somos mais emotivos, tribais, formando laços pessoais para tudo. As conexões são tudo em nosso País. O diploma vale mais do que o mérito. A amizade abre todas as portas.

Vejam aquele metalúrgico que virou presidente. Quantos amigos o homem tem! É amigo dos maiores empreiteiros do País. Na verdade, é “o amigo” do maior deles. E existiam milhões de motivos para essa amizade tão bonita.

A lista de amigos do peito desse grande defensor dos pobres é imensa. O líder do “socialismo do século XX” na ultrademocrática Venezuela, por exemplo. Que amizade sincera! Até nosso BNDES foi usado como prova de amor, emprestando-lhe bilhões. E que progresso! Quanta fartura!

O outro líder socialista, daquela ilha de liberdade caribenha, também foi agraciado com bilhões de provas de lealdade que só uma amizade profunda justifica. O porto que construiu com nosso dinheiro serviu para mandar até armas clandestinas para a Coreia do Norte, ícone da luta de resistência contra o imperialismo ianque.

Quando nosso ex-presidente se viu em dificuldades com a Justiça, tivemos mais uma comprovação da força da amizade. Milhares saíram em defesa do camarada, atacando o juiz Sergio Moro como se fosse o Capeta. Ninguém ali estava colocando seus interesses pessoais como prioridade. Era pura abnegação fruto da amizade. Comovente. Os americanos bobocas chamam isso de “capitalismo de laços”, um socialismo disfarçado de capitalismo, com um grau de intervenção estatal que permite esses supostos abusos. Não entendem nada, esses estadunidenses! Ninguém os ensinou a importância da amizade.

Nos Estados Unidos, você é apenas um, como tantos outros, e todos devem seguir as mesmas regras. Chamam isso de “império das leis”. Uma chatice! Não conhecem o nosso “você sabe com quem está falando?”, que automaticamente coloca o outro em seu devido lugar: o de submissão a quem tem amigos poderosos. Morro de saudade da minha tribo chamada Brasil. Quantas conquistas trabalhistas que os sindicatos conseguiram pela amizade com os trabalhadores! Quantas provas de altruísmo em nossa justiça social! A amizade é a coisa mais importante na vida. Lula e Marcelo Odebrecht que o digam…

As conexões são tudo em nosso País. O diploma vale mais do que o mérito. A amizade abre todas as portas