Quando foi fundada, em 1781, Los Angeles era parte da Nova Espanha, a colônia que abarcava México, boa parte da América Central e um grande pedaço do atual território dos Estados Unidos. “Pode-se dizer que é uma cidade latino-americana”, afirma Joan Weinstein, vice-diretora da Fundação Getty, que promove a segunda edição do evento Pacific Standard Time: LA/LA em 70 instituições do sul da Califórnia, até janeiro de 2018, com foco na arte da América Latina – a primeira, em 2011-2012, tentava reescrever a história da arte sob o ponto de vista de Los Angeles em vez de Nova York.

Quatro das exposições têm foco no Brasil, com individuais de Anna Maria Maiolino (no MOCA, Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles) e Valeska Soares (Museu de Arte de Santa Bárbara), Xerografia: Copyart in Brazil, 1970-1990 nas Galerias da Universidade de San Diego, com participação de artistas como Paulo Bruscky e Eduardo Kac, e Axé Bahia: The Power of Art in an Afro-Brazilian Metropolis, no Museu Fowler na Universidade da Califórnia – Los Angeles, com obras de Mário Cravo Neto, Pierre Verger e Rubem Valentim, entre outros. Artistas brasileiros, como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Jonathas de Andrade e Rivane Neuenschwander, participam de outras 16 mostras, como Making Art Concrete: Works from Argentina and Brazil in the Colección Patricia Phelps de Cisneros, no Getty Center, e Radical Women: Latin American Art, 1960-1985, no Hammer Museum.

Havia outras razões para a escolha da América Latina como tema. “Quase metade da população de Los Angeles vem de algum lugar da América Latina, principalmente do México e da América Central, mas também de outros países, incluindo o Brasil. E em termos de história da arte foi algo que não teve a atenção que merecia. E o Getty sempre foi focado em pesquisa”, explica ainda Joan Weinstein.

Em 2013, as instituições começaram a apresentar seus projetos de pesquisa, desenvolvidos ao longo de dois anos, com um orçamento total de US$ 16 milhões. “Não tentamos definir o que é arte latino-americana, porque na verdade não existe a América Latina. Não é um continente, não é um país. Queremos levantar questionamentos. Quanto essa identidade latino-americana é imposta? Como os artistas lutam contra isso? No caso do Brasil, faz parte da América Latina? Os artistas estão em contato com artistas de outros países?”, informa a vice-diretora da Fundação Getty.

Pacific Standard Time: LA/LA começou a ser produzido muito antes da atual polêmica sobre imigração e um presidente norte-americano que defende a construção de um muro separando os Estados Unidos do México. “Mas não poderíamos acontecer num momento melhor. Mostrar essas relações e identidades complicadas nos força a pensar nessas coisas. Se conhecemos outros contextos, ficamos mais interessados em construir pontes do que muros”, acrescenta Joan Weinstein.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.