Peça em um ato.
Dizem que o pôquer semanal do Presidente existe desde o tempo do Getúlio Vargas.
Pouquíssima gente tem acesso mas é uma tradição que – ao que parece – nunca foi interrompida nem durante o Governo Militar.
Greves já foram decididas; valor do salário mínimo; indicações para Ministérios.
Contam que Lula, certa vez, ganhou um cavalo do Figueiredo.
O cavalo ficou anos incógnito na fazenda de um amigo.
Em 2004 o primeiro-cavalo morreu no anonimato.
É ali, nas cartas, que o futuro da Nação vem sendo decidido há décadas.
Abre o pano.
Numa sala do subsolo, cheia de canos e registros, coberta por uma densa fumaça de charuto, apenas uma luz pende sobre a mesa de feltro verde.
O Presidente Temer, Janot, Gilmar Mendes, Lewandowski e mais um punhado de políticos de alta estirpe escondem suas cartas, dando a entender que o jogo vai avançado.
– Vai Janot…aposta. – insiste Temer.
Janot sempre atrasa o jogo.
– Não me apressem…não me apressem. – Janot embaralha suas fichas.
Temer tem um par de Reis. Está pronto para sua aposta: dividir o processo contra a chapa dele e de Dilma.
O pôquer é sua última esperança.
Janot aposta baixo.
– Dois corruptos do segundo escalão. – empurra duas fichas para o centro da mesa.
– Pago seus corruptos e aposto mais um foro privilegiado. – Moreira Franco gesticula.
Temer se prepara para apostar seu futuro.
Justo nessa hora batem na porta.
Um segurança de terno apertado abre uma janelinha e pede a senha:
– “Fora Temer!” – diz a voz do lado de fora.
Todos riem.
A senha “Fora Temer” foi invenção da Dilma antes de perder o impeachment para um par de 4.
Dilma não joga mais, mas a senha ficou até hoje.
Lula entra na sala para a surpresa de todos.
– Presidente…que surpresa…quanto tempo você não aparece. – Temer recebe o colega com educação.
– A gente vem quando precisa, não é mesmo Michel? – Lula responde enigmático.
Como ex-presidente, Lula tem presença vitalícia garantida na mesa.
Pelo que conquistou, é uma verdadeira lenda do esporte.
Em respeito a sua presença decidem começar uma nova rodada.
Lula acende um cubano e recebe suas cartas.
Por duas horas, joga como um profissional.
Apostas baixas, acumulando fichas.
Duas horas depois tem alguns documentos oficiais, um marqueteiro e uma gravação clandestina.
Então acontece.
Numa rodada lá pelas 4 da manhã, todos saíram, menos o Gilmar Mendes e Lula.
Gilmar aposta primeiro:
– All in. Valendo sua prisão imediata, ainda hoje.
Lula joga as costas para trás e passeia habilmente uma ficha pelos quatro dedos.
Olha para o Presidente do TSE tentando ler seu rosto.
O ambiente é tenso como uma delação premiada.
Depois de longos quarenta segundos, Lula empurra lentamente todas as suas fichas para o centro da mesa.
– Eu pago. Eleições diretas quando o Temer cair.
– Eu?! – Temer se surpreende.
Todos pedem silêncio.
É a jogada da noite.
Jogada de mestre.
Lula e Gilmar mostram suas cartas.
Um par baixo para cada um.
A dealer Cármen Lúcia puxa a última carta, a que decidirá o jogo.
Desce o pano.
Acaba a peça.
No Brasil é assim.
O suspense nunca acaba.

Como ex-presidente, Lula tem presença vitalícia na mesa. Pelo que conquistou, é uma lenda do esporte