De acordo com relatório do banco Credit Suisse, conseguido em primeira mão pelo jornal O Estado de S. Paulo, os últimos seis meses foram atípicos na história da inflação brasileira. Ocorreu deflação de 2,1% nos alimentos. Foi a primeira retração do gênero entre os meses de setembro e fevereiro desde 1991, ano em que se inicia a série história da inflação de alimentos. O relatório ainda diz que, neste ano, a queda no preço da carne também pode ajudar a puxar a inflação para baixo, se o embargo às exportações, decretado por vários países, com a Operação Carne Fraca, for mantido.

A equipe do Credit fez as contas para medir o tamanho do impacto da queda no preço dos alimentos sobre a inflação total do Brasil. Em setembro do ano passado, a inflação oficial (medida pelo IPCA acumulado em 12 meses) estava em 8,5%. Em fevereiro deste ano, havia caído para 4,8%. Ou seja, entre setembro e fevereiro deste ano, o indicador recuou 3,7 pontos porcentuais. Desse total, 2 pontos porcentuais ficaram por conta dos alimentos.

Segundo Iana Ferrão, economista do Credit Suisse, desde 1991, quando se inicia a série história da inflação de alimentos, nunca o indicador havia ficado no negativo nesta época do ano. Também não se havia visto uma retração tão forte. Em sua pesquisa, Iana identificou que em 2006 ocorreu um fenômeno parecido. Os preços caíram por seis meses consecutivos. No entanto, a queda não ocorreu na virada do ano, mas entre o primeiro e o terceiro trimestre, e a retração registrada foi praticamente a metade, 1,1%.

Como matérias-primas agrícolas entram na composição de produtos em outros setores, o efeito se espalhou. Cerca de 40% da ração das galinhas, por exemplo, é milho. Então o frango ficou mais barato. Quase 25% da alimentação fora de casa sofre impacto do preço dos alimentos, assim, houve retração também na inflação no setor de serviços. “Vivemos um choque de oferta nos alimentos, só que é um choque positivo, que reduz os preços”, diz Iana.

O comportamento dos preços da comida foi tão inesperado que, na média, desde setembro, os analistas de mercado acabaram prevendo inflação mais alta do que a efetivamente se viu. Para Iana, é difícil que os preços continuem caindo e tende a ocorrer uma recomposição já a partir deste mês. Assim, o relatório prevê que, no primeiro trimestre de 2017, haverá deflação de alimentos de 0,5.

Clima

Iana atribui a queda dos preços dos alimentos a três fatores: estagnação da economia, que reduz consumo e aumenta oferta; mudança no câmbio, que deixa as importações mais baratas; e principalmente clima favorável às colheitas, no Brasil e no mundo. O preço de vários tipos de alimentos ficaram mais em conta, desde frutas, verduras e tubérculos de pequenos produtores até as grandes matérias-primas agrícolas, como milho e soja, que têm cotação internacional.

Para o ano, a carne pode dar uma nova contribuição para o recuo da inflação de alimentos. Os embargos às exportações, decretados por vários países após a Operação Carne Fraca, tendem a elevar a oferta n o mercado interno e reduzir os preços. O impacto seria da ordem de 0,3 ponto porcentual na inflação do ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.