O mais completo estudo de imagens realizado até agora em crianças nascidas de mães contaminadas pelo vírus da zika revelou um retrato ainda mais preocupante sobre as conseqüências que ele é capaz de provocar. Publicado na última edição do jornal científico Radiology, divulgado na semana passada, o trabalho demonstra que os danos cerebrais vão muito além da microcefalia e incluem prejuízos em estruturas chaves para o desenvolvimento cognitivo e motor.

O levantamento foi feito em conjunto por médicos brasileiros e americanos e teve como base a análise de imagens obtidas do cérebro de 438 bebês. A maioria apresentava um problema chamado ventriculomegalia, caracterizado pelo aumento dos espaços cerebrais preenchidos por fluidos. Quase todos manifestavam anormalidades no corpo caloso (fibra nervosa que permite a transmissão de sinais elétricos entre os hemisférios direito e esquerdo) e, com exceção de um, eles também portavam problemas que impediam a migração dos neurônios para os destinos apropriados.

EFEITO: Imagens apontam deformidades no cérebro de gêmeas infectadas
EFEITO: Imagens apontam deformidades no cérebro de gêmeas infectadas

Além disso, há calcificações intracranianas e redução no volume das matérias branca e cinzenta. “A severidade das má-formações, as alterações nos tecidos e a localização das calcificações foram os achados mais surpreendentes”, disse a médica brasileira Fernanda Tovar-Moll, vice-presidente do Instituto D´Or de Pesquisa e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fernanda é uma das autoras da pesquisa, junto com Patrícia Soares de Oliveira-Szejnfeld, da Universidade Federal de São Paulo, e Deborah Levine, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

As alterações comprometem o desempenho normal de funções como o movimento, a fala e o equilíbrio e também o balanço necessário entre o pensamento racional e as emoções. Algumas acometem áreas que continuam a se desenvolver após o nascimento, o que significa que mesmo crianças que no estágio intra-uterino não manifestavam problemas podem vir a apresentá-los durante o decorrer da infância. E, como já se suspeitava, a pesquisa mostrou que o primeiro trimestre da gestação representa o período no qual há maior risco para o surgimento das alterações. C.P.


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